Academia Nacional de Medicina aborda a epidemia de sarampo em simpósio

05/09/2019

Desde sua fundação, a Academia Nacional de Medicina esteve comprometida com o combate de importantes enfermidades, participando de campanhas de conscientização, tratamento de erradicação de doenças. No artigo 2ºseu estatuto, a fundação da instituição está diretamente associada à função de responder às perguntas do Governo sobre tudo o que interessar à saúde pública, com especial destaque para o combate às epidemias e a propagação de vacinas e investigações que possam concorrer para o progresso da arte de curar.

Com este objetivo em mente, na última quinta-feira (5), os Acadêmicos Paulo Marchiori Buss e Celso Ferreira Ramos Filho reuniram especialistas na Academia Nacional de Medicina para abordar a emergência de saúde relacionada ao sarampo. Segundo o portal do Ministério da Saúde, entre 09 de junho a 31 de agosto de 2019, o Brasil notificou 20.292 casos da doença, com casos confirmados concentrados em 13 estados, sendo 98,37% no estado de São Paulo (2.708), seguido do Rio Janeiro, Pernambuco, Distrito Federal, Goiás, Paraná, Maranhão, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Santa Catarina e Piauí.

Acadêmicos Celso Ramos, Pietro Novellino e Paulo Buss discorrem sobre principais aspectos da emergência de sarampo junto às Dras. Simone Aranha Nouér e Cynthia Cavazzana

Com apresentação intitulada “Sarampo: Epidemiologia de uma Doença em Extinção Expansão”, o Acad. Celso Ramos apresentou um breve compilado das principais características da doença, cujo vírus foi introduzido na espécie humana há cerca de 1000 anos. Destacou que a doença é altamente transmissível e possui taxa de ataque superior a 90%, tendo um extenso período de incubação e transmissão. Acerca da importância da introdução da vacina, ressaltou que, antes de seu emprego, a doença era causa de 26% dos óbitos de crianças entre 1 e 4 anos.

Na sequência, o Acadêmico apresentou os planos de controle e eliminação do sarampo no Brasil, que culminaram na emissão do Certificado de Eliminação do Sarampo da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2016. Naquela data, os últimos casos autóctones de sarampo haviam ocorrido no ano 2000 e, até então, todos os casos confirmados no País haviam sido importados ou relacionados à importação.

Sobre o aumento no número de casos da doença em todo o mundo, o Acadêmico apresentou dados que apontam para um surto mundial. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o número de casos de sarampo no mundo triplicou nos primeiros sete meses de 2019, considerando o mesmo período do ano em 2018.

Com conferência intitulada “Profilaxia e Controle do Sarampo em Unidades de Saúde e em Populações Especiais”, a Dra. Simone Aranha Nouér (UFRJ) abordou importantes aspectos sobre o contágio em unidades de saúde. Segundo a médica, algumas características do vírus do sarampo contribuem para este fato, ressaltando que o mesmo permanece ativo e contagioso por até duas horas em superfícies ou em suspensão no ar. Considerando, ainda, que o vírus possui uma extensa fase contagiosa, este fato possibilita que indivíduos assintomáticos e aparentemente saudáveis possam funcionar como vetores de disseminação da doença.

Sobre o controle da doença em unidades de saúde, a Dra. Simone Aranha destacou que este requer medidas simultâneas, que envolvam tanto os profissionais de saúde quanto os pacientes imunossuprimidos, e, portanto, mais vulneráveis. Nesse contexto, além da indicação do uso de máscaras específicas para controle de aerossóis, a médica ressaltou a importância da frequente e correta higienização das mãos, afirmando que, apesar de parecer uma medida óbvia, esta é uma ferramenta eficaz para o controle do atual surto.

Abordando “Epidemia de Sarampo em São Paulo: Características e Tendências”, a Dra. Cinthya Cavazzana (COVISA – SMS/MSP) afirmou que o estado possui os maiores índices de presença da doença, chamando atenção para o fato de que, anteriormente, a capital possuía cerca de 90% dos casos, índice este que hoje já gira em torno de 60%, indicando a disseminação em direção ao interior do estado. Salientou, ainda, a importância de uma eficiente e apurada coleta de dados na definição de estratégias de saúde, levando em consideração fatores como faixa etária, localidade, condições socioeconômicas etc. Sobre os principais desafios enfrentados pelos agentes de saúde, a Dra. Cinthya fez um alerta sobre uma diminuição considerável da cobertura vacinal observada não só em São Paulo, mas em todo o país. Apresentou dados que estimam que, atualmente, existem aproximadamente 7 milhões de indivíduos suscetíveis ao contágio só no estado de São Paulo – no Rio de Janeiro, esse número chega a 4 milhões.

Concluiu sua apresentação discorrendo sobre estudos que analisam a existência de um novo genótipo da doença que estaria em circulação e, portanto, justificaria os altos índices de contágio. Todavia afirmou que ainda é cedo para determinar se a informação procede e que existem outros fatores mais importantes na determinação de uma epidemia, como a diminuição da cobertura vacinal, o nível de treinamento de agentes de saúde, dentre outros.

A última conferência do Simpósio ficou a cargo da Dra. Claudia Maria Braga de Mello, que discorreu sobre “Vigilância e Controle do Sarampo em Período Pré-Epidêmico”, abordando a perspectiva da Subsecretaria de Vigilância em Saúde do Estado do Rio de Janeiro. Segundo a subsecretária, uma das principais preocupações do órgão é criar um modelo de análise que consiga realizar o cruzamento de informações dos diferentes protocolos de vacinação que antecederam o que é utilizado atualmente, em vigor desde 2004.

Com relação aos desafios das equipes de saúde, chamou atenção para o fato de que o sarampo possui sintomas muito similares a outras viroses, o que torna essencial o treinamento adequado dos agentes, que muitas vezes não têm experiências com a doença durante a graduação. Na conclusão de sua apresentação, a Dra. Claudia Maria Braga de Mello discorreu sobre as ações de fortalecimento da vigilância epidemiológica, que incluem o incremento de visitas e treinamentos aos municípios, para a ações de rotina e surtos; a emissão de alertas e divulgação de dados junto aos Secretários de Saúde Municipais; a implementação de cursos de divulgação e treinamento dos sistemas de informação em saúde e o desenvolvimento de ações conjuntas que congreguem instituições científicas, conselhos de classe e grupos de trabalho.

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