ANM celebra personagens e aspectos históricos da medicina em simpósio

02/08/2018

Aconteceu na tarde da última quinta-feira, 2 de agosto, o simpósio “História da Medicina”, no Anfiteatro Miguel Couto da Academia Nacional de Medicina. Os Acadêmicos Carlos Gottschall, Orlando Marques Vieira, José Galvão-Alves e a Dra. Maria Helena Itaqui Lopes, Professora da Universidade de Caxias do Sul, apresentaram palestras sobre importantes aspectos e personagens da história médica. O Presidente da ANM, Jorge Alberto Costa e Silva, deu início ao evento realizando um breve discurso a respeito do tema, introduzindo os assuntos a serem tratados na sessão, de acordo com ele, um dos aspectos mais fascinantes da história.

Na mesa diretora do Simpósio, os Acads. José Galvão-Alves, Jorge Alberto Costa e Silva (Presidente) e Carlos Gottschall

O Acadêmico Carlos Gottschall realizou palestra sobre o médico, professor e político, José Martins da Cruz Jobim, e seu protagonismo na medicina nacional. Nascido em 1802, no Rio Grande do Sul, atuava principalmente nas áreas de Saúde Pública e Extensão Social da Medicina. Carlos Gottschall apresentou um breve contexto histórico do Brasil e o papel desempenhado por Cruz Jobim na época, que foi médico do Paço Imperial, professor de Medicina Legal da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro – da qual foi também diretor por cerca de vinte e um anos – e um dos fundadores e patrono da cadeira n° 41 da Academia Imperial de Medicina, atualmente Nacional.

Considerado um dos pioneiros da psiquiatria no Brasil, José Martins da Cruz Jobim foi Diretor do Hospício Dom Pedro II, publicou “Insânia Loquaz” – primeiro escrito sobre doenças mentais do Brasil – e inaugurou a Neuropsiquiatria no país. Criou medidas para auxiliar na prevenção e tratamento de doenças, como a proibição de sepultamentos em igrejas, separação de alienados e tuberculosos e a implementação de medidas sanitárias nas prisões. Fundou, ainda, a disciplina de Medicina Legal no ensino universitário.

Concluindo sua apresentação, o Acadêmico versou sobre os avanços que José Martins da Cruz promoveu na medicina nacional durante o período em que atuou como deputado federal e senador, entre elas o aumento do número de Faculdades de Medicina, a implementação de medicina integral (não só curativa), e a luta por maior orçamento governamental para a Academia. Cruz Jobim foi membro correspondente da Real Academia de Ciências de Nápoles e de Real Academia de Ciências de Lisboa. Foi agraciado comendador da Imperial Ordem da Rosa e da Imperial Ordem de Cristo.

O Presidente da ANM, Jorge Alberto Costa e Silva, ressaltou a importância de Martins da Cruz na medicina brasileira e a influência da medicina francesa na Santa Casa de Misericórdia e na própria Academia Nacional de Medicina, que em seu início se inspirava e se aproximava da Academia francesa. Em seguida passou a palavra ao Acadêmico Orlando Marques Vieira, que relembrou grandes nomes da história da medicina e seus respectivos papeis no avanço de suas respectivas especialidades.

O Acadêmico versou sobre Ambroise Paré, cirurgião francês que introduziu diversas inovações na prática médica, como a hemostasia predominantemente pela ligadura dos vasos e manobras isquêmicas, precursor da cirurgia moderna e patrono do Colégio Brasileiro de Cirurgiões; Candido Borges Monteiro, o Visconde de Itaúna, primeiro do Brasil a praticar em paciente vivo a ligadura da aorta abdominal acima da perfuração da ilíaca, cujo procedimento publicou mais tarde notável trabalho e respeito. Falou também sobre o Dr. Egas Moniz, pioneiro na aplicação contraste em vasos cerebrais com injeção pela carótida, realizando a primeira a angiografia cerebral no Brasil. Inaugurou o campo de Psicocirurgia no país e foi o primeiro e único representante dos países de língua portuguesa a receber o prémio Nobel até José Saramago.

A respeito do tema, o Presidente Costa e Silva declarou a importância de relembrar personagens que contribuíram imensamente para a medicina e que por muitas vezes caem no esquecimento. Destacou Egas Moniz e a descoberta da lobotomia, técnica que deu origem à psicocirurgia e à sofisticada ciência da cirurgia do cérebro que hoje atua sobre comportamento, no tratamento de doenças como depressão e alucinações crônicas.

Sobre o tema “A História da Semiologia Médica: dos tempos hipocráticos à contemporaneidade”, o Acadêmico José Galvão-Alves pontuou os principais marcos no avanço do estudo de sinais e sintomas ao longo dos séculos. Em sua introdução, apresentou a noção de doença representada como castigo ou feitiçaria na pré-história, até Hipócrates, que rejeitava a intervenção divina como motivo de doença ou cura e inaugurou o diagnóstico baseado na observação. Versou ainda sobre alguns conceitos da Escola Hipocrática, como a medicina alicerçada na observação e no rigor, e o estudo de tudo aquilo que se pode ver, sentir e ouvir, que serviu como base da Semiologia.

O Acadêmico mencionou ainda nomes como Galeno, Herófilo, André Vesálio e Thomas Sydenham, e suas respectivas contribuições para o estudo semiológico. Em seguida, citou algumas invenções que mudaram a medicina, entre elas o estetoscópio, termômetro, mensuração da pressão arterial, raio X, tomografia computadorizada, ultrassonografia e ressonância magnética. Finalmente, relembrou o médico canadense Willian Osler e suas ideias que complementaram a semiologia Hipocrática: a observação dos sinais, sintomas e suas interpretações acompanhadas das informações trazidas pelo paciente, afim de nutrir o raciocínio clínico na composição do diagnóstico.

Salientando a dualidade paciente e doença, o Presidente Jorge Alberto Costa e Silva afirmou que a busca pelo equilíbrio na atuação do profissional de medicina é um desafio que existe desde a antiguidade, todavia é necessário lembrar que não existe doença sem o ser biológico. Citou também o inventor austríaco Nikola Tesla, e sua contribuição para as modernas tecnologias e avaliações da sensibilidade e ressonância magnética proporcionadas por suas invenções nos campos da engenharia mecânica e eletrotécnica.

Por fim, a Professora Maria Helena Itaqui Lopes, da Universidade de Caxias do Sul, apresentou a palestra “Medicina e Música: curiosidades entre as artes”, onde identificou semelhanças entre ambas as especialidades, abordando principalmente a origem comum entre ciência e arte – capacidade para formular hipóteses, imagens e ideias, na colocação de problemas. A médica abordou a objetividade na criação de harmonias musicais, movimentos simétricos da matemática na música e a proporcionalidade entre notas, comparando-as a técnicas cirúrgicas. Comparou também ritmos e melodias à relação médico-paciente.

Em sua conclusão Dra. Maria Helena discutiu o uso terapêutico da música e sua interferência na plasticidade cerebral, conexões neuronais e auxílio nos processos de memorização e atenção. Citou grandes médicos, que também foram músicos, como Joseph Leopold Auenbrugger, René Laënnec, Christian Albert Theodor Billroth e Paulo Luis Viana Guedes, destacando o trabalho colaborativo envolvido nos processos médicos e musicais, afirmando que as duas artes possuem mais semelhanças que diferenças.

O Presidente encerrou o simpósio parafraseando Hipócrates, que afirmou que a medicina é ciência na elaboração e arte na execução, utilizando o exemplo do cirurgião, que no momento de executar sua função é muito mais artista que cientista. Parabenizou por fim a Dra. Maria Helena Lopes pela belíssima palestra, que despertou a reflexão sobre a dimensão artística da profissão e declarou que a ciência é a base da medicina, mas a arte é o seu dia-a-dia.

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