Aspectos da Pesquisa Translacional em Cirurgia São debatidos na Academia Nacional de Medicina

01/10/2014

Os Acadêmicos Francisco Sampaio (Presidente da ANM) e Rubens Belfort (Vice-Presidente) abordaram, respectivamente, “Pesquisa Translacional em Oftalmologia” e “Conceitos de Pesquisa Translacional em Cirurgia”.

Mesa Diretora composta por: Dr. Remo Susanna (USP), Dr. Carlos Moreira Jr. (UFPR), Acad. Oswaldo Moura Brasil, Acad. Francisco, Acad. Rubens Belfort, Dr. Marcos Ávila (UFG) e Dr. Walton Nosé (UNIFESP)

Em sua apresentação, o Acadêmico Rubens Belfort (Professor Titular no departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo) ressaltou que o conceito de pesquisa translacional não é um conceito novo, apesar do aumento do volume de discussões a respeito deste assunto nos últimos anos. Como exemplo deste fato, o Professor Belfort mencionou caso ocorrido em 1879 na Inglaterra, quando registrou-se que 10% das crianças nascidas em hospitais públicos na Europa desenvolviam cegueira. Para solucionar este problema, foi realizada cultura da conjuntiva destas crianças, representando uma das maneiras pelas quais a aliança entre pesquisadores e clínicos pode solucionar problemas de saúde pública. Segundo o Professor Belfort, o processo que envolve a pesquisa translacional começa no hospital, é continuado em laboratório e seus resultados retornam ao ambiente clínico.

Ainda na área oftalmológica, o Professor Belfort mencionou a epidemia de cegueira ocorrida em Boston (EUA) na década de 1940, cujas principais vítimas eram crianças recém-nascidas e cujas as causas eram desconhecidas. Anos depois, um pesquisador australiano chegou à conclusão de que a causa da epidemia estaria ligada à oxigenação – crianças acometidas por algum dano pulmonar geralmente eram submetidas a um excesso de oxigenação, que desencadeava estas reações. As pesquisas desenvolvidas a partir deste fato resultaram na definição do grau de saturação de oxigênio necessária para tratar danos pulmonares, porém segura para não causar cegueira.

Segundo ainda o Professor Belfort, o principal objetivo da pesquisa translacional deverá ser conciliar as atividades dos pesquisadores (que desenvolvem importantes trabalhos em diversas áreas como Medicina e Biologia, mas que desconhecem o ambiente hospitalar) com o clínico (que, apesar de familiarizado com as necessidades e rotinas do ambiente hospitalar, não necessariamente desenvolvem atividades de pesquisa), em um movimento que o Professor Belfort apelidou de “sentar para tomar um café”.

Iniciando sua palestra sobre “Conceitos de Pesquisa Translacional em Cirurgia”, o Acadêmico Francisco Sampaio (Professor Titular, Unidade de Pesquisa Urogenital, UERJ) buscou responder à pergunta “O que é Pesquisa? ”. Foi apresentado quadrante criado por Donald Stokes, que analisa os aspectos da aplicação dos conhecimentos científicos em um modelo teórico baseado em quatro quadrantes, onde o eixo vertical classifica a relevância científica e o eixo horizontal classifica a relevância tecnológica (aplicação imediata). Além deste quadrante, o Professor Sampaio classificou quatro tipos de pesquisa: pesquisa pura, que tem por objetivo aprofundar o conhecimento; pesquisa aplicada, que busca as causas de um fenômeno que não se entende, com o objetivo de resolver um problema concreto; pesquisa invenção, que busca conhecimento com a perspectiva de aplicá-lo a algo concreto e pesquisa observação, que não se preocupa com aprofundar o conhecimento nem com aplicações práticas.

“O Quadrante de Pasteur: a Ciência Básica e a Inovação Tecnológica”, Donald Stokes (1997), modificado e adaptado.

Foi apresentada a expressão “da bancada à beira do leito” para explicar Medicina Translacional, ressaltando que o termo é uma tradução literal de “Translational Research”. A respeito desta expressão, chamou atenção para o fato de que a importância de uma pesquisa é medida a partir da velocidade pela qual esta se traduz em novas práticas clínicas. Sendo assim, aproximar e mesclar os grupos de pesquisa básica e clínica é uma das principais ferramentas para fechar a lacuna existente esses dois tipos de pesquisa. Nas palavras do Professor Sampaio: “Na medicina em geral, a meta é transformar pesquisas científicas em produtos ou conhecimento utilizáveis pelos pacientes”.

A ampliação do conceito também foi abordada na apresentação, ressaltando-se que não se trata apenas de transferir os resultados da pesquisa de laboratório para aplicação em prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças, mas de programar pesquisas de laboratório para lograr avanços em problemas clínicos não solucionados. Exemplos do grande espaço que este tipo de pesquisa vem logrando em diferentes revistas científicas, incluindo revistas específicas, como “Science Translational Research”, que possui fator de impacto superior a 15 e que, hoje em seu sétimo ano, apresenta pesquisas de alto nível.

Por fim, abordando sua experiência pessoal, o Professor Francisco Sampaio apresentou a Unidade de Pesquisa Urogenital, grupo que criou e coordena desde 1989, dedicado à pesquisa básica e clínica aplicadas à Urologia, ligado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro. As pesquisas desenvolvidas pelo staff do laboratório e alunos de mestrado e doutorado, formado por 50% de urologistas, 40% de biólogos e veterinários e 10% de nutricionistas, constituem um exemplo de como a pesquisa translacional pode se traduzir em resultados concretos de novas práticas, que visam, em última forma, a melhora da qualidade do atendimento aos pacientes.

Após as apresentações dos Acadêmicos, foi iniciada rodada de perguntas e debate sobre pesquisa translacional contando com os Professores Marcelo Ventura (HOPE Recife), Walton Nosé (UNIFESP), Marcos Ávila (Universidade Federal de Goiás), Remo Susanna (USP) e Carlos Moreira Jr. (UFPR), participantes da Jornada de Cirurgia Oftalmológica, realizada anteriormente à Sessão Plenária e organizada pelos Acadêmicos Rubens Belfort, Carlos Paiva Gonçalves e Oswaldo Moura Brasil.

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