Caso Clínico de Cirurgia é abordado em edição de Uma Tarde na Academia: Oficina Diagnóstica

01/09/2016

A Academia Nacional de Medicina realizou na quinta-feira (01) mais uma edição do evento Uma Tarde na Academia: Oficina Diagnóstica, idealizado pelo Acadêmico José de Jesus Peixoto Camargo e organizada pelos Acadêmicos José Manoel Jansen, Carlos Basílio de Oliveira e José Galvão Alves. O tema escolhido para a Sessão desta quinta-feira foi um caso clínico de cirurgia, coordenada pelo Acadêmico Pietro Novellino. Como apresentador do caso, foi convidado o Dr. Alexandre Virla (Unirio), além dos Drs. Pablo Magalhães e Maria Morard, como debatedores do caso.

Os Acadêmicos Pietro Novellino e Francisco Sampaio na abertura do evento

Após a abertura do evento pelo Presidente Francisco Sampaio, o Acadêmico Pietro Novellino iniciou os trabalhos, convidando o apresentador Alexandre Virla para fazer a apresentação do caso: uma paciente de 24 anos, negra, sexo feminino, casada, natural do Rio de Janeiro onde reside. A paciente relatou que em 2010, ao realizar exame admissional, foi detectada uma imagem no mediastino, na radiografia do tórax. Foi submetida a uma tomografia computadorizada de tórax em Hospital Peridomiciliar que evidenciou imagem de 3,0 x 1,5 cm localizada na região paracardíaca à direita. Procurou atendimento na Santa Casa do Rio de Janeiro onde vinha em acompanhamento regular com Tomografias computadorizadas do tórax seriadas. No início de 2013, começou a referir sintomas respiratórios e foi evidenciado um aumento da lesão no controle tomográfico. A paciente tinha intensa atividade física e passou a não mais tolerar esforço físico. Foi encaminhada ao Serviço de Cirurgia Torácica do HUGG- UNIRIO, para prosseguir a investigação e avaliação cirúrgica.

A apresentação do caso ficou a cargo do Prof. Dr. Alexandre Virla

No histórico patológico da paciente, constava: uso de contraceptivos, ausência de alergias, hemotransfusão pós-parto (cesariana). O histórico fisiológico apontou que a paciente foi nascida a termo, parto vaginal hospitalar; aleitamento materno; crescimento e desenvolvimento normais; ciclo menstrual regular, com fluxo normal e duração de 3 a 4 dias; Gestação gemelar aos 15 anos. Por fim, o histórico familiar apontou que a paciente possuía mãe hipertensa, falecida aos 58 anos devido a câncer de útero e pai vivo portador de DM.

Após a realização de exames físicos, foram apresentados os seguintes resultados:

  • Bom estado geral, lúcida e orientada, corada, hidratada, anictérica, acianótica, eupnéica em ar ambiente;
  • Sinais vitais: PA: 120x75mmHg, FC: 87bpm, FR: 18irpm, Tax: 36,7°C, SatO2: 98%;
  • AR: Murmúrio vesicular universalmente audível e sem ruídos adventícios;
  • ACV: RCR2T, BNF sem sopros ou extrassístoles;
  • ABD: Atípico, flácido, timpânico, peristalse presente, indolor a palpação superficial e profunda, ausência de massas ou visceromegalias;
  • MMII: Sem edema, sem empastamento, pulsos presentes e simétricos.

A evolução da paciente indica que, após videotoracoscopia direita para diagnóstico e avaliação da ressecabilidade da lesão, a mesma recebeu alta no 3º dia após retirada do dreno torácico. Todavia, foi relatado retorno no 5º dia pós-operatório com quadro de dor abdominal de moderada intensidade, principalmente no hipocôndrio direito, sem irradiação, associada à dispneia aos médios esforços. Foram, então, realizados novos exames:

  • Lúcida e orientada, anictérica, acianótica, corada, hidratada, afebril, taquipneica;
  • Sinais Vitais: PA: 130 x 80 mmHg, FC: 106 bpm, FR: 24 irpm, Saturação de oxigênio: 92%;
  • AR: Murmúrio vesicular reduzido na base de Hemitórax direito, sem ruídos adventícios. Ferida operatória sem sinais flogísticos;
  • ACV: RCR 2T BNF;
  • Abdome: Globoso, doloroso difusamente à palpação profunda, com sinal de piparote positivo, hepatomegalia dolorosa (hepatimetria 16cm), sem sinais de irritação peritoneal, peristalse presente, ausência de circulação colateral;
  • MMII: sem edema, pulsos pediosos palpáveis e simétricos, panturrilhas sem empastamento;
  • Tomografia de tórax: derrame pleural à direita com atelectasia compressiva adjacente;
  • Ecocardiograma: cavidades com diâmetros normais, função sistólica e diastólica de ventrículos direito e esquerdo preservadas. Regurgitação mitral mínima, sem sinais de hipertensão pulmonar, pericárdio normal e veia cava inferior com diâmetro diminuído sugestiva de hipovolemia;
  • USG abdominal com Doppler colorido: fígado aumentado de volume, textura heterogênea, hepatopatia difusa, veias suprahepáticas com fluxo monofásico e hepatofugal e ascite acentuada de conteúdo límpido;
  • Tomografia de abdome: Hepatomegalia difusa homogênea, sem lesões focais, baço normal e ascite volumosa.

Em seguida, o Professor Carlos Alberto Basílio de Oliveira fez a análise patológica do caso, apresentando também a anatomia da região do mediastino.

O Acadêmico Carlos Alberto Basílio de Oliveira realiza a análise patológica do caso apresentado

Os debatedores do caso passaram, então, a analisar as possibilidades de diagnóstico do caso, levando em consideração os dados apresentados e as características da paciente. A Professora Maria Morard apresentou os métodos diagnósticos mais utilizados para a região do mediastino – diagnóstico topográfico, diagnóstico etiológico e diagnóstico de operabilidade. Depois, dividiu-os entre métodos não-cirúrgicos (endoscopia per-oral, cintigrafia, ecografia, análises laboratoriais, punção percutânea, testes cutâneos) e métodos cirúrgicos (biópsia ganglionar extratorácica, punção aspirativa transtorácica, mediastinoscópica transcervical, mediastinotomia anterior, minitoracotomia, videotoracoscopia e toracotomia exploradora).

O Dr. Pablo Magalhães
A Dra. Maria Morard

O diagnóstico apresentado foi o de Síndrome de Budd-Chiari, que constitui uma interrupção ou diminuição do fluxo sanguíneo normal de saída do fígado em qualquer nível das veias hepáticas ou da veia cava inferior, caracterizada por hepatomegalia, hipertensão porta e em alguns casos rápida deterioração da função hepática. No caso apresentado, estavam presentes três fatores de risco para trombose: uso de contraceptivos orais, cirurgia e neoplasia.

Na evolução do caso, foi apontada: internação no CTI; anti-coagulação plena com heparina não fracionada; Warfarin; diuréticos de alça; paracentese de alívio. A paciente teve alta do CTI no 5º dia de internação, sendo transferida para enfermaria. Em seguida, foi observada a melhora dos sintomas, com diminuição da ascite.

Após intensa participação dos Acadêmicos presentes, o Acadêmico Pietro Novellino encerrou mais uma edição do evento, agradecendo a todos os presentes e reforçando que a participação e a presença dos alunos são os elementos mais importantes para iniciativas como Uma Tarde na Academia, que visam aproximar a instituição do público mais jovem.

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