Jornada de Atualização em Transplante de Órgãos é realizada na ANM

01/06/2017

Com a ausência justificada do Presidente Francisco Sampaio, que encontrava-se em Congresso na Europa, o Acadêmico José Camargo, Presidente da Secção de Cirurgia, fez a abertura e presidiu a Jornada de Atualização em Transplante de Órgãos.

Segundo o portal do Ministério da Saúde, no primeiro semestre de 2015, pela primeira vez desde 2007, observou-se diminuição na taxa de potenciais doadores e de doadores efetivos. A elevada taxa de recusa familiar à doação (44%) persiste como o principal obstáculo para a efetivação da doação – a fila de pessoas aguardando doadores chegou a 45.553 em maio de 2016. Para discorrer sobre este importante assunto e a situação atual dos transplantes no Brasil, a ANM promoveu esta Jornada.

Acadêmicos Claudio Cardoso de Castro, Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, José Camargo e José Osmar Medina na Mesa Diretora

Abordando “Transplante de Rim”, a Dra. Marina Cristelli (Hospital do Rim) iniciou sua apresentação enumerando os principais fatores causadores de insuficiência renal, destacando a hipertensão e o diabetes. Dentre os tratamentos apresentados, o transplante foi apontado como a melhor opção de terapia em razão de oferecer melhoria da expectativa de vida do paciente e de sua qualidade de vida, além de uma redução do risco cardiovascular. Dentre os fatores que influenciam o resultado do exame, é possível destacar os fatores imunológicos (como a existência de rejeição); fatores cirúrgicos (técnica utilizada) e fatores não-imunológicos (qualidade do doador e presença de comorbidades, dentre outros).

Na conclusão de sua apresentação, a Dra. Marina Cristelli afirmou que os principais desafios para a melhora do panorama dos transplantes de rins envolvem a melhora no acesso à inscrição dos pacientes para transplante, aumento da conscientização das e a redução da disparidade geográfica na distribuição dos transplantes.

O Acadêmico Fabio Jatene discorreu sobre “Transplante Cardíaco”, afirmando que o Brasil possui o maior sistema público de transplantes do mundo, tendo alcançado marca histórica em número de procedimentos no ano de 2016 – foram 357 procedimentos realizados, dos quais 90% foram financiados pelo SUS. Sobre as principais limitações do transplante cardíaco no Brasil, apontou a escassez e a qualidade dos doadores, falta de uma melhor estruturação das equipes e maior eficiência no encaminhamento dos pacientes elegíveis para receber o transplante.

O Acadêmico Fabio Jatene apresentou as características do sistema de transplantes cardíacos no Brasil

Ao final de sua apresentação, o Acadêmico ressaltou a necessidade de reverter a diminuição no número de doadores observada nos últimos dois anos. Além deste fato, destacou o desafio de aumentar o aproveitamento dos órgãos ofertados por meio de uma maior atenção à manutenção dos doadores nas UTIs.

A respeito de “Transplante de Fígado”, o Dr. Lucio Pacheco, que é Chefe do Serviço de Transplante Hepático do Hospital Estadual da Criança, afirmou que apesar de possuírem a vantagem de poderem ser disponibilizados a qualquer momento, os fígados transplantados muitas vezes possuem seus próprios problemas. Importante notar, ainda, que o transplante hepático não é sinônimo de cura – para um paciente portador de hepatite C, o transplante só garante uma maior vida útil, não uma vida livre de HCV.

Discorreu, então, sobre a utilização de fármacos como o sofosbuvir e ribavirina, que não só reduzem o risco de reinfecção pelo vírus após o transplante, mas também podem funcionar de maneira preventiva antes da operação. Medicamentos como sofosbuvir constituem a melhor chance de terapia para pacientes em estágio avançado da hepatite C; todavia, seus altos custos podem atrasar em décadas sua entrada no mercado como um genérico acessível.

Em sua conferência, intitulada “A Construção do Maior Programa de Captação de Órgãos do Brasil”, o Dr. Joel Andrade (Coordenador Estadual de Transplantes de Santa Catarina) discorreu sobre sua experiência, lembrando que o estado de Santa Catarina apresentou uma evolução na efetivação de doadores de múltiplos órgãos. Dentre as ações implementadas, destacou o investimento em qualificação profissional, por meio de cursos de capacitação; a implantação de roteiros técnicos em todo o processo de doação e a auditoria contínua das mortes.

Utilizando-se de um modelo empregado originalmente na Espanha – decorrente da chamada Lei de Transplantes de 1979, o Dr. Joel Andrade realizou importantes adaptações à realidade brasileira, resultando em um aumento de 71,5% no número de notificações, queda da recusa familiar em 31,6% e aumento de 239,7% no número de doadores no estado. Destacou, ainda, que o modelo espanhol prevê acompanhamento dos familiares dos doadores, fornecendo suporte psicológico e emocional neste momento difícil.

Na sequência, o também Acadêmico José Osmar Medina Pestana fez panorama sobre o “Estado Atual do Transplante de Órgãos no Brasil”. O Acadêmico, que é considerado a maior referência em transplantes no país, ressaltou que, apesar do Brasil possuir uma boa classificação no que se refere ao número de órgãos transplantados no mundo, existem importantes disparidades internas, que representam um significativo desafio ao desenvolvimento da rede de transplantes nacional. Discorrendo sobre as perspectivas para o futuro, deu destaque ao desenvolvimento de técnicas como a chamada indução de tolerância, que, por meio de ferramentas moleculares, visa diminuir as taxas de rejeição aos órgãos transplantados. Além disso, ressaltou o uso das células-tronco, dos órgãos artificiais, da bioengenharia e do xenotransplante como importantes mecanismos na melhora das perspectivas dos transplantes.

O Acadêmico José Osmar Medina apresentou o estado atual dos transplantes no país

Encerrando as conferências do dia, o Acadêmico e Presidente da Secção de Medicina José Camargo fez apresentação sobre “Atualização em Transplante de Pulmão”, discorrendo sobre a experiência dos 969 transplantes realizados pelo médico até setembro de 2016. Apresentou a análise de caso de diversos pacientes, discorrendo sobre a evolução das técnicas utilizadas, como o emprego seguro de retransplante e a utilização de oxigenação por membrana extracorpórea. Algumas das contribuições possíveis para o aumento do número de transplantes de pulmão incluem qualificar o atendimento médico do doador e a aprimoração das técnicas de transplante com doadores vivos.

O Acadêmico e coordenador da Jornada, José Camargo

Sobre os desafios que persistem, falou sobre o mau aproveitamento de doares de outros órgãos, a falta de uma “cultura médica” para o transplante (que envolve o encaminhamento tardio de pacientes elegíveis) e a má qualificação dos hospitais brasileiros – segundo o Acadêmico, estes podem ser apontados como delatores da difícil realidade do transplante de pulmão no Brasil.

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