Políticas públicas para a saúde do continente

23/06/2015

Somente com politicas públicas encampadas pelos governos será possível enfrentar com sucesso os problemas de saúde que afetam o continente sul-americano concluíram os acadêmicos do Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai, participantes do I Congresso das Academias de Medicina, nos dias 18 e 19 últimos, na sede da Academia Nacional de Medicina – ANM, no Rio. No evento, organizado pela ANM conjuntamente com a Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (ACAMERJ), foram discutidos temas transversais à saúde: o aumento da incidência de AVC, os problemas advindos do envelhecimento da população, a escassez de água e o consumo de drogas. O próximo encontro das academias será em Buenos Aires.

Na abertura do evento, o presidente da ANM, professor Pietro Novellino, destacou a função social e humanitária do médico. “O médico nunca deve esquecer que a sua principal missão é ter compaixão pelo doente”, disse. O presidente da ACAMERJ, por sua vez, ressaltou a parceria entre as academias sul-americanas. “Unidos, com a ajuda da tecnologia e a busca pelo saber médico podemos fazer mais”.

O AVC

Na palestra sobre o “Acidente Vascular Encefálico e propostas para o século XXI”, o neurologista Ramon Leiguarda, da Academia Nacional de Medicina da Argentina, enfocou os aspectos clínicos mais relevantes, enquanto seu conterrâneo, o Acadêmico Antonio R. de Los Santos, alertou para os efeitos colaterais dos anticoagulantes utilizados no tratamento da doença.

O Acadêmico Sérgio Novis defendeu a prevenção, “como a grande saída para o alto custo da medicina atual” e propôs a instalação de centros de referência para tratar pacientes com AVC, com fisiatras, fonoaudiólogos e outros profissionais médicos de reabilitação. O neurologista Daniel Azevedo Amitrano considerou o AVC problema de saúde pública, ao passo que o acadêmico paraguaio Enrique Armando Ortiz deu a visão, como geriatra, sobre a precariedade dos sistemas de reabilitação dom doente de AVC e o despreparo dos cuidadores.

ENVELHECIMENTO

Na conferência “O envelhecimento humano em nosso continente”, a médica geriatra Cláudia Burlá detalhou o desafio de se lidar com a população de idosos com situações de irreversibilidade, uma vez que, segundo ela, a maior parte das doenças não é passível de tratamento curativo. “O século XXI será o de envelhecimento populacional”, disse. “Entre os anos 2000 e 2050 aumentará significativamente o segmento acima de 80 anos, que já é o que mais cresce”, ao acrescentar que as doenças neurovegetativas serão o grande desafio do século. “A cada 4 segundos uma pessoas no mundo recebe um diagnostico de demência”, explicou.

O Acadêmico Luiz Augusto de Freitas Pinheiro considerou que outro grande desafio é manter o idoso ativo na sociedade, inclusive no mercado de trabalho. Já o acadêmico chileno José Adolfo Rodrigues Portales esclareceu que, no Chile, o número absoluto de idosos quintuplicou desde 1950, ao mesmo tempo em que aumentou expressivamente a expectativa de vida e caiu a taxa de natalidade. Segundo ele, no Chile, 70% dos idosos têm renda mensal inferior a 370 dólares e 14% vivem sozinhos. “Temos que Incentivar redes sociais de apoio e evitar o isolamento dos idosos”, disse.

Em sua explanação, o Acadêmico Manoel Marti, da Argentina fez uma distinção entre as idades cronológica, biológica, psicológica e social. “Que o processo de envelhecimento seja o mais normal, benéfico e feliz para todos”, defendeu. Já a Acadêmica Vilma Câmara, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), disse que o idoso não pode ser tratado como o vilão do déficit da Previdência e defendeu a ampliação de coberturas previdenciárias. “Quando chegamos aos 60 anos isso pode significar apenas metade de nossas vidas”, disse.

DROGAS

Na conferência “Drogas – Legalização de seu uso”, o psiquiatra forense Talvane de Moraes apresentou um histórico da legislação brasileira das drogas. Para ele, o grande fato médico no quadro de usuários e dependentes é a vulnerabilidade do drogado, a sua escravização pela droga. “Os mais vulneráveis são adolescentes e pacientes que sofrem de transtornos mentais”, disse. Já o Acadêmico Antonio Egídio Nardi referiu-se ao que chamou de “vicio social elegante” no consumo de drogas que, por este raciocínio, inclui o vinho, o cigarro e mais recentemente o café. “Fato é que vários estudos provam que a maconha prejudica o desenvolvimento cerebral”, disse. Para ele, a descriminalização pura e simples da droga não resolve o problema sem que esteja vinculada a campanhas educativas e de investimento em saúde.

ÁGUA

Em “O Desafio da Oferta de Água Potável no Século XXI”, o professor Leo Heller, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre água e saneamento, criticou as indústrias, como a mineradora, que impactam o uso da agua, comprometendo a qualidade de vida das comunidades. Ele destacou que os países devem reconhecer o direito das populações ao acesso à agua, trazendo, por exemplo, melhores soluções de esgotamento sanitário. Estes direitos, segundo ele, estão explicitados nos Objetivos do milênio firmado em 2000 pela Organização das Nações Unidas. “Nos próximos 15 anos espera-se forte comprometimento das nações para solucionar o atraso ao acesso de serviços tão essenciais”, disse.

O Acadêmico Waldenir de Bragança discorreu sobre as reservas de água no continente, a principal, o aquífero guarani, maior manancial de água doce transfronteiriço do mundo que está localizado na região centro-leste da América do Sul e estende-se pelos territórios do Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina. Em suia explanação, o engenheiro Marco Aurélio Chaves Ferro, destacou, em sua explanação, que 12% da água disponível estão no Brasil, a maioria na região amazônica. O Acadêmico Paulo Barchiori Buss, por sua vez, lembrou que a agua está ligada a questões econômico-sociais inerentes. Ele defendeu a formação de um grupo multidisciplinar, envolvendo as várias academias e profissionais, como engenheiros, biólogos e sanitaristas, entre outros, para levar às autoridades dos países propostas de adoção de politicas publicas de proteção e preservação dos recursos hídricos.

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