Simpósio em comemoração ao Dia Mundial do Rim aconteceu na Academia Nacional de Medicina

31/03/2016
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Em homenagem à ocorrência do Dia Mundial do Rim no dia 10 de Março de 2016, a Academia Nacional de Medicina organizou, no dia 31 de março de 2016, um simpósio relacionado a temas fundamentais para o estudo da saúde renal. O simpósio consistiu em uma união de conferências organizadas pelos Acadêmicos Omar da Rosa Santos, Nestor Schor, Miguel Riella e Jose Medina Pestana, teve como debatedor o Dr. Valdebrando Lemos e aconteceu de 14h30 às 20h.

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Mesa Diretora com o Prof. Natalino Salgado Filho, Acads. Nestor Schor, Omar da Rosa Santos, Francisco Sampaio, Profs. Emmanuel A. Burdmann, Lin Yu e Acad. Miguel C. Riella

Na primeira parte do dia, o Prof. Emmanuel A. Burdmann, Professor Associado da disciplina de Nefrologia da USP, proferiu uma conferência excelente sobre as doenças tropicais e sua relação com injúrias renais agudas, concentrando-se na análise da incidência de quatro doenças consideradas mais frequentes em países próximos aos trópicos, a Malária, a Leptospirose, a Dengue e o Tétano. Sua contribuição foi muito rica e diferenciada porque destacou alguns estudos realizados a respeito da incidência da contração de IRA em pacientes atingidos por estas doenças tropicais e infecciosas. Para reforçar a importância do estudo destas doenças frequentes, o Prof. Burdmann destacou um caso específico ocorrido em 2011 em que uma diplomata brasileira de 35 anos foi internada no Distrito Federal, após passar 3 dias na Guiné Equatorial. Ainda que ela tenha buscado tratamentos em centros renomados de Brasília, só após duas semanas de internação foi identificado que ela havia contraído Malária e ela faleceu no mesmo dia.

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Prof. Emmanuel A. Burdmann

Dessa forma, Burdmann reforçou a ideia de que é preciso dar mais importância a estas doenças tropicais que atingem a população mundial e são pesadamente subestimadas devido a sua diversidade de sinais e sintomas e a falta de diagnóstico correto.

Em seguida, o Prof. Luis Yu, da USP, contribuiu para o simpósio falando sobre a chamada Síndrome Cardiorrenal, delineando uma relação muito direta entre o coração e o rim e alertando a comunidade médica sobre a importância de se estudar o comprometimento das funções renais em pacientes cardiopatas ou com doenças cardiovasculares.

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Prof. Luis Yu

Para o professor, o coração e o rim têm caminhos muito semelhantes e, dentre os fatores que os associam, estão, por exemplo, a auremia, os fatores tromboembólicos, os distúrbios hidroeletrolíticos ou a anemia. E mostrou, ainda, demonstrações de estudos da American College of Cardiology/American Heart Association acerca de tratamentos de ultrafiltração bem-sucedidos para diagnósticos de Síndrome Cardiorrenal.

Adiante, o Prof. Natalino Salgado Filho da Universidade Federal do Maranhão discorreu sobre a gravidade dos quadros de atendimento de hospitais públicos em tratamentos relativos a disfunções renais, destacando que os diagnósticos são tardios, que há atrasos no início dos tratamentos e que a evolução dos mesmos costuma ser desfavorável.

Ele alertou que a maioria dos casos de DRC não são identificados ou diagnosticados em Unidades de Urgência e que muitos tratamentos nestas unidades e nas Ambulatoriais ainda são inadequados e, para cercar o assunto, o Prof. Natalino apresentou uma análise sobre o desenvolvimento de projetos de pesquisa na Universidade Federal do Maranhão.

Com destaque, ele expos situações no Hospital Universitário de São Luis em que o Projeto de Qualificação em Nefrologia Multidisciplinar cumpre uma função essencial para a pesquisa e a qualificação de médicos em formação apresentando cursos de especialização, cursos autoinstrucionais de extensão e jogos eletrônicos.

Prof. Natalino Salgado Filho

Segundo ele, o público-alvo de um curso multidisciplinar deste porte são profissionais da área da saúde de nível superior, com atuação em serviços de atenção especializados em nefrologia (clínicas públicas ou privadas habilitadas junto ao SUS), ambulatórios em nefrologia vinculados ao SUS e outros programas e serviços do Sistema Único de Saúde de todo o Brasil.

O projeto se diferencia por envolver além de equipes médicas, agentes comunitários, contribuindo para a difusão de informações e ferramentas que possibilitem diagnósticos precoces.

Junto a isso, o Prof. Natalino apresentou importantes recursos de ensino à distância que podem funcionar como alicerces para o aprimoramento de estudos e tratamentos relativos às graves doenças renais, como cursos de especialização orientados por professores mestres e doutores através da plataforma Academic Works; o sistema integrado ao Moodle para gestão e acompanhamento referentes à execução de atividades dos coordenadores, supervisores, professores, orientadores e alunos nesta modalidade de estudos online; e diversos aplicativos para dispositivos móveis cujo tema é Nefrologia.

O aplicativo apresentado por ele mais expressivo foi o desenvolvido pelo Grupo Saite, registrado no CNPq e certificado pela UFMA que prioriza ações nas áreas de Saúde, Inovação, Tecnologia e Educação (SAITE).

O Grupo Saite disponibiliza diversos e-books (livros eletrônicos interativos) para dispositivos móveis, categorizados em áreas temáticas, e com lançamentos contínuos. Na Saite Store, os usuários podem fazer download gratuito dos e-books e gerenciá-los de acordo com seu interesse, podendo acessá-los mesmo sem conexão com a internet.

Essas plataformas tornam-se ótimas ferramentas de inovação e tecnologia para aprimorar e atender os serviços hospitalares no Brasil. A integração desses dispositivos com objetos de aprendizagem interativos tornam a construção do conhecimento dinâmica e atraente, além de promover facilidades como acessibilidade e portabilidade.

Acad. Nestor Schor

O Professor Schor em seguida colocou que com o passar das décadas na vida de um indivíduo, as funções renais começam a decrescer e que, a partir dos 50 anos de idade, aparecem alterações não só funcionais, como alterações na sua estrutura. Indivíduos com 70 anos têm, em média 20% a menos da sua função. 

Esta é uma situação esperada para os idosos sem doenças associadas, mas ressalta‐se que existe uma diversidade de alterações.Esta mudança do panorama demográfico mostra que atualmente no Brasil temos em torno de 12,5% de idosos e que se espera que em 2050 tenhamos 30% da nossa população com idade superior a 60 anos. Portanto, o estudo do envelhecimento passa a ser muito importante não só para a Medicina, mas também para outros setores da nossa sociedade, como na economia, para a condução de assuntos sociais e culturais, etc.

O Rim, com o passar das décadas, tem função decrescente, sendo mais importante a partir dos 50 anos de idade, onde aparecem alterações não só funcionais, como em sua estrutura. Ocorre maior frequência de cistos simples, fibrose do tecido, redução do córtex renal com aumento de sua medula e em especial alterações dos glomérulos, as unidades funcionais de filtração do sangue, que vão sofrendo alterações fibróticas – ou seja, “vão se esclerosando”.

Quando ocorre a presença de doenças associadas, como por exemplo, o diabetes, a hipertensão, a aterosclerose, esta perda pode ser muito maior. Assim, é necessário distinguir e interferir, distinguindo o que é o envelhecimento fisiológico (“normal”) do envelhecimento patológico. Desta maneira, deve‐se controlar o melhor possível às doenças concomitantes que vão aparecendo com o passar dos anos. Enquanto a medicina, com seus pesquisadores, estuda os mecanismos moleculares do envelhecimento, é possível sugerir várias medidas visando propiciar o envelhecimento mais saudável possível, ou seja, fisiológico.

Devemos estimular e solicitar à população em geral e em especial para os adultos e idosos a necessidade de avaliarem a função renal, sendo que o exame mais simples e inicial é a medida da creatinina no sangue. Se houver alterações no seu valor esperado, deve‐se prosseguir com a investigação utilizando técnicas mais completas e complexas.

Algumas medidas devem ser estimuladas para reduzir a progressão da perda da função renal com o envelhecimento. O controle do peso é fundamental. Obesos e mesmo indivíduos com sobrepeso não só tem pior qualidade de vida, mas também apresentam maiores chances de perderem as condições fisiológicas. O controle, quando possível, do meio ambiente seria outra medida importante. Diferentes toxinas, qualidade do ar e da água, condições sanitárias, etc., todas elas contribuem para perda das melhores condições de saúde.

O fumo, excesso de álcool e drogas recreativas podem comprometer o envelhecimento fisiológico. O sedentarismo tem sido cada vez mais apontado como um dos principais fatores de perda de boas condições fisiológicas e da função renal. Além destes aspectos, conforme referido acima, o controle de doenças comuns nos idosos passa a ser a pedra angular para prevenir o envelhecimento patológico, necessitando um cuidado médico e acesso aos tratamentos específicos de uma maneira adequada.

A seguir, o Acad. José Medina Pestana ministrou uma palestra indicando o panorama de destaque do programa de transplantes de órgãos no Brasil. Contribuindo para o simpósio, ele colocou que a maior parte da população brasileira autoriza doação de órgãos e que as filas de demandantes de transplante de rim nos hospitais do Brasil todo hoje praticamente não existem, pois da demanda de 60 transplantes de rim por milhão de habitantes, o país já atende 50% destas pessoas.

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Acad. José Medina Pestana

E, para fechar o simpósio, o Acad. Miguel C. Riella contribuiu discorrendo sobre a relação entre a Nutrição e as Doenças Renais. Ele destacou que dentre os alimentos que normalmente ingerimos, os carboidratos geram gás carbônico, que é eliminado pelos pulmões; as gorduras são metabolizadas no fígado, gerando o colesterol, mas o produto do metabolismo das proteínas deve ser eliminado pelos rins. Em relação às proteínas, o Prof. Riella colocou que as proteínas de origem animal, sobretudo as carnes vermelhas, causam uma dilatação das artérias de nossos filtros (glomérulos), aumentando o fluxo de sangue e, por conseguinte, aumentando a pressão dentro destes filtros, forçando a filtração.

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Acad. Miguel C. Riella

Contudo, destacou que não existe evidencia de que o consumo de proteínas animais prejudiquem os rins de pessoas sadias, mas que pessoas que possuem uma população menor de filtros (glomérulos) porque perderam um rim, ou tiveram lesões dos filtros causadas por hipertensão arterial e/ou diabetes, precisam reduzir a quantidade das proteínas ingeridas.

Todos nós deveríamos ingerir um pouco de proteínas animais diariamente, mas quando há déficit de função dos rins, recomenda‐se evitar as carnes e ingerir mais peixe, ovos, leite e derivados. Além disto, as proteínas de origem vegetal, embora não tenham a composição ideal de amino ácidos, são uma excelente fonte de proteínas e não causam nenhum dano aos rins.

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