Centenário de nascimento de Clementino Fraga Filho é comemorado com Simpósio na ANM

24/08/2017

A imortalidade é propriedade característica daqueles que galgam compor as fileiras da quase bicentenária Academia Nacional de Medicina. Fundada em 1829, a instituição reúne em sua história nomes como Miguel Couto, Carlos Chagas, Oswaldo Cruz e o médico e eterno ícone da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Clementino Fraga Filho, nascido em 11 de agosto de 1917.

Os Acadêmicos Carlos Eduardo Brandão, Eduardo Lopes Pontes, Antonio Nardi, José Galvão-Alves e Glaciomar Machado, o Prof. Luiz Abrahão Jr. E o Acad Marcus Tulio Haddad

Em comemoração ao centenário do nascimento ilustre imortal, que faleceu com 98 anos em 11 de maio de 2016, os confrades José Galvão-Alves e Carlos Eduardo Brandão organizaram importante Simpósio na última quinta-feira (24), dedicado a abordar a trajetória de Clementino Fraga Filho tal como os avanços da Gastroenterologia, especialidade a qual o Acadêmico se dedicou por toda sua vida.

O Simpósio foi iniciado com a palestra do Dr. Luiz Abrahão Jr. (UFRJ), que abordou o tema “Doença do Refluxo Gastro Esofágico (DRGE)”, destacando que esta é uma condição que se desenvolve quando o refluxo do conteúdo gástrico causa sintomas incomodativos ou complicações, fato que classifica esta como uma das doenças que mais abalam o nível de qualidade de vida dos pacientes acometidos. Em seguida, apresentou o algoritmo de investigação da DRGE, enumerando as principais complicações e doenças que podem estar associadas à DRGE.

Na conclusão de sua conferência, o Dr. Luiz Abrahão Jr. fez um apanhado dos tratamentos disponíveis, incluindo algumas inovações como o uso o Linx, que consiste em um pequeno anel de esferas de titânio com imãs internos, colocado em torno do músculo fraco na base do esôfago em uma operação feita por meio de a laparoscopia. O anel reforça o músculo fraco para mantê-lo fechado, impedindo o refluxo de suco gástrico, mas é flexível e se expande para deixar o alimento passar quando engolido.

Acerca da “Doença Úlcero Péptica”, o Acadêmico Marcus Tulio Bassul Haddad salientou que esta doença está frequentemente associada a perda na qualidade de vida, perda de produtividade no trabalho e crescentes gastos no tratamento das complicações da doença. Além deste fato, a doença está frequentemente associada a complicações como hemorragia gastrointestinal e a perfuração, referida em cerca de 7% de seus pacientes.

Afirmou que se trata de uma doença multifatorial, que pode estar associada a fatores genéticos e ambientais. Derrubou também alguns “mitos” relacionados à úlcera, como a comum associação com bebidas destiladas e alimentos picantes. Dentre os objetivos terapêuticos do tratamento da úlcera péptica, destacou a inibição ácida, a cicatrização ulcerosa e a erradicação da bactéria Heliobacter pylori.

Coube ao Acadêmico Eduardo Lopes Pontes discorrer sobre “Doença Inflamatória Intestinal (DII)”, que está relacionada a uma condição crônica que resulta em inflamação e, algumas vezes, danos à estrutura dos intestinos. Entre as formas mais comuns estão a Retrocolite Ulcerativa e Doença de Crohn, que afetam partes diferentes do intestino e resultam em sintomas levemente diferentes. Dentre os fatores responsáveis pela gênese das DII’s estão fatores ambientais, genéticos e, ainda, alterações na microbiota intestinal. Por fim, ressaltou que se trata de um tema vasto e controverso, apresentando um histórico dos tratamentos das doenças intestinais.

Na sequência, salientou que não existe cura para DII, mas que esta pode ser controlada através da mudança ao estilo de vida e tratamentos médicos. Com bom controle e acompanhamento médico regular, destacou, pode-se esperar um bom prognóstico, com pouco ou nenhum efeito sobre a expectativa de vida.

Falando sobre “Doença das Vias Biliares”, o Acadêmico Glaciomar Machado chamou atenção para a chamada Icterícia Obstrutiva, que ocorre quando há algum obstáculo ao livre fluxo de bile podendo ser causadas pelo uso de drogas, doenças imunológicas, afecções congênitas, parasitas, cálculos ou tumores. A natureza da icterícia obstrutiva pode ser benigna – no caso das coledocolitíases, colangites hipertensivas e pancreatites agudas biliares – ou maligna, no caso dos carcinomas das vias biliares extra-hepáticas. Em ambos os casos é crucial o papel do endoscopista, uma vez que existe uma diversa gama de métodos e formas de investigação do doente portador de icterícia obstrutiva, como ecografia hepática, tomografia computorizada ou uma ressonância magnética nuclear do fígado, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) ou por ressonância magnética nuclear, uma colangiografia percutânea ou até mesmo uma biopsia hepática.

Encerrando a primeira etapa, o Acadêmico José Galvão-Alves fez apresentação sobre “Doenças do Pâncreas”, abordando especialmente a Pancreatite Crônica (PC), uma inflamação mantida do pâncreas, que leva à destruição progressiva do órgão, com perda das suas principais funções e da capacidade de produção de insulina. A PC pode ser classificada como obstrutiva, autoimune ou calcificante, esta última sendo 90% das vezes associada ao consumo de álcool. Ressaltou que, dentre as principais complicações da PC estão os pseudocistos, a obstrução biliar, derrames pleurais e câncer.

Os Drs. Henrique Sérgio Moraes, Antônio José de Vasconcellos Carneiro, os Acadêmicos Antonio Nardi, José Galvão-Alves e Carlos Eduardo Brandão e o Prof. Milton Arantes

Na segunda etapa do Simpósio, foram realizadas as conferências dos Professores Carlos Eduardo Brandão (ANM) e Milton dos Reis Arantes (HUCFF). O Acadêmico Carlos Eduardo Brandão fez apresentação a respeito de “Hepatites Virais”, destacando que existem 5 tipos de hepatites virais (A, B, C, D e E) e apresentando um histórico da descoberta dos vírus e a evolução dos tratamentos.

Na conclusão de sua palestra, Carlos Eduardo Brandão abordou a obra de Clementino Fraga Filho, dando especial destaque ao seu pioneirismo no estudo das doenças do fígado, por meio de tratados como “Exploração Funcional do Fígado” (1944) e “Estudos sobre a Coagulação Sanguínea em Patologia Hepática” (1953). Além do Professor Clementino Fraga Filho, homenageou também os Acadêmicos Thomaz de Figueiredo Mendes (1911-1996) e Mario Barreto Corrêa Lima.

Coube ao Professor Milton dos Reis Arantes abordar a trajetória de Clementino Fraga Filho, nascido em 11 de agosto de 1917, em Salvador. Durante o curso médico, recebeu o prêmio Berchon des Essats por ter obtido as melhores notas, tendo sido nomeado Assistente de Clínica Médica da Faculdade Nacional de Medicina em 1940. Com louvável dedicação à instituição, exerceu na UFRJ cargos como o de Diretor da Faculdade de Medicina (1974) e Diretor-Geral do Hospital Universitário (1978-1985), que foi batizado em sua homenagem. Ao ser eleito Professor Emérito em 1986, recebeu medalha de ouro por 50 anos de serviços prestados à Universidade.

Clementino Fraga Filho foi também um defensor da integração docente assistencial como forma de ensino no campo da Saúde e pioneiro nos Programas de Saúde da Família. Liderou também a Reforma Universitária, que introduziu o conceito de departamentos e centros de conhecimento (decanias) para as Universidades brasileiras.

Ao final das apresentações, seguiu-se mesa redonda denominada “A Gastro-Hepatologia no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho”, que contou com a participação dos professores Henrique Sérgio Moraes Coelho (HUCFF) e Antônio José de Vasconcellos Carneiro (HUCFF).

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