Edição de “Tarde na Academia: Oficina Diagnóstica” aborda caso de Poliadenomegalia

31/08/2017

A Academia Nacional de Medicina realizou nesta quinta-feira (31) mais uma edição do evento Uma Tarde na Academia: Oficina Diagnóstica, organizada pelos Acadêmicos José Manoel Jansen, Carlos Basílio de Oliveira e José Galvão-Alves. O tema escolhido para a Sessão desta quinta-feira foi um caso clínico de poliadenomegalia. Como apresentador do caso, foi convidado o Acadêmico José Galvão-Alves, que relatou se tratar de um homem branco, com 29 anos e médico. Segundo o apresentador, em início de janeiro de 2017 em razão de episódio de dor lombar direita, o paciente procurou o setor de emergência e realizou uma Tomografia Computadorizada (TC) de Abdome Total sendo evidenciado cálculo renal radiopaco a direita, com dilatação do sistema pielocalicial e linfoadenomegalias no hilo hepático, pericelíacas e retroperitoneais com esplenomegalia concomitante.

Na mesa Diretora, os Acadêmicos Ricardo Cruz, José Galvão-Alves, José Manoel Jansen e Carlos Alberto Basílio

Seguiu afirmando que o paciente negou quaisquer sinais ou sintomas como dor de cabeça, tosse, dispneia, sudorese, prurido, febre, emagrecimento, etc. Além deste fato, tratava-se de um paciente tabagista de 20 cigarros ao dia há cerca de 12 anos; alegou uso de álcool socialmente e negou o uso de drogas ilícitas.

Após a realização de exames físicos, constatou-se as seguintes condições: o paciente encontrava-se lúcido e orientado no tempo e espaço; tenso e preocupado com seus achados tomográficos; corado, hidratado, anictérico e acianótico. Sua temperatura axilar estava em 36,8ºC e sua pressão arterial em 120/80 mHg. Ritmo cardíaco regular em 2T, bulhas normofonéticas. Pulsos arteriais palpáveis, regulares e sincrônicos com o precórdio. Não foram detectadas adenomegalias nas cadeias periféricas à palpação.

Com os resultados dos exames de imagem em mãos, a equipe que o acompanhava sugeriu a realização de uma biópsia de gânglio retroperitoneal, cujo laudo foi apresentado pelo Acadêmico Carlos Alberto Basílio de Oliveira, responsável pela anatomia patológica do caso.

Na sequência, o relator do caso, Dr. Paulo César de Oliveira (UNIFESO) fez a análise dos aspectos clínicos mais relevantes com relação a este caso. O palestrante afirmou que, em relação à anamnese e exame físico: a dor lombar à direita (evidências de litíase renal à direita) adicionada à história pregressa de artrite gotosa pressupõem Hiperuricemia – formação de cálculos de uratos. Já com relação aos exames de imagem apresentados, destacou que a tomografia computadorizada evidencia a existência de Linfoadenomegalias no hilo hepático, pericelíacas e retroperitoneais e esplenomegalia, que resultam em um indicativo de Doença Sistêmica com envolvimento linfático.

Os Acadêmicos Carlos Alberto Basílio, José Galvão-Alves, José Manoel Jansen, o Dr. Paulo César de Oliveira e o Honorário Nacional Celmo Celeno Porto

Comentou também a realização do exame FAN, cujo resultado foi “Não Reativo”. De acordo com o Professor, este exame (FAN) visa a pesquisa de anticorpos contra antígenos celulares e os padrões de fluorescência nucleares pontilhado grosso e homogêneo quase sempre se associam a auto-imunidade sistêmica. Todavia os avanços metodológicos ocasionaram expressivo aumento na sensibilidade do teste e consequente diminuição de sua especificidade – assim sendo, resultados falsos positivos ou falsos negativos podem ocorrer.

Em resumo, foram ressaltadas as seguintes evidências clínicas:

  • Paciente jovem com múltiplos gânglios;
  • VHS elevado;
  • PCR elevada;
  • ALT, AST e GGT elevadas;
  • IgG4 elevada;
  • Angiotensina Convertase elevada.

Com base nessas informações, foi exposto um diagnóstico diferencial de poliadenomegalia, para o qual o Dr. Paulo César apresentou o acróstico CHICAGO: Cânceres, Hipersensibilidade, Infecção, Colagenoses Atípicas (doenças linfoproliferativas), Granulomatoses e Outras.

Em sua avaliação final, apontou para o diagnóstico de Sarcoidose – doença inflamatória benigna, multissistêmica, caracterizada pela participação de macrófagos, linfócitos T, em especial CD4+. Histologicamente, observa-se a formação de granulomas não caseosos nos tecidos lesados. Embora a etiologia seja desconhecida, existem várias publicações que sugerem a participação de um agente ambiental, infeccioso ou não infeccioso, responsável pela eclosão da resposta inflamatória em um hospedeiro geneticamente suscetível. Os pulmões e os gânglios linfáticos intratorácicos são os órgãos mais afetados, ocorrendo em mais de 90% dos doentes. O estadiamento radiográfico pulmonar é uma das melhores formas de caracterizar as manifestações torácicas e avaliar o prognóstico.

Na sua forma extratorácica, a Sarcoidose pode atingir músculos, fígado, baço, olhos, pele, nódulos linfáticos extratorácicos, sistema nervoso, coração, rins, ossos e glândulas parótidas.

Os Acadêmicos José Manoel Jansen e Carlos Alberto Basílio

O comprometimento hepático, na Sarcoidose, é subclínico e os granulomas não caseosos são detectados por biopsia, em de 60 a 80% dos casos na fase de instalação aguda. Do ponto de vista bioquímico, estas lesões originam apenas discretas anomalias da função hepática, com elevação dos valores da fosfatase alcalina, das transaminases e da gama-glutamil transferase.

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