A Academia Nacional de Medicina foi palco de um importante encontro internacional nesta quinta-feira (10), que reuniu médicos, acadêmicos e pesquisadores de diversos países para o Simpósio Internacional “Trauma e Cirurgia de Urgência: A Abordagem Multidisciplinar”. O evento elencou o trauma como uma das principais causas de morbimortalidade no mundo e reforçou a necessidade de ações integradas envolvendo prevenção, educação médica e atuação coordenada entre diferentes especialidades e regiões.
Ao longo da tarde, três grandes painéis nortearam a programação: o trauma como problema global de saúde pública; a educação e formação médica em trauma e cirurgia de urgência; e a importância da atuação multidisciplinar no atendimento às vítimas.
A primeira parte do teve como foco o panorama epidemiológico do trauma em escala mundial. Com moderação do Acadêmico Octavio Vaz e do professor Gustavo Fraga (UNICAMP), o bloco “O Trauma como uma Doença Mundial” destacou que as lesões traumáticas estão entre as principais causas de morte não natural em vários países, agravadas por cenários de guerra, violência urbana e acidentes de trânsito.
O médico turco Arda Isik apresentou uma visão crítica sobre a epidemiologia das causas externas de morte no mundo, incluindo os efeitos devastadores dos conflitos armados. Na sequência, Rodrigo Caselli Belém, de Brasília (DF), compartilhou dados sobre a realidade brasileira, apontando altos índices de mortalidade em decorrência de traumas e a urgência de políticas públicas mais eficazes.
Representando África do Sul e Escócia, Emudiaga Emanuwa falou sobre estratégias de prevenção do trauma a partir de uma perspectiva de saúde pública, propondo abordagens que vão desde campanhas educativas até investimentos estruturais em infraestrutura urbana e mobilidade.
Para fechar o painel, dois temas centrais para o futuro da medicina foram discutidos: a formação do cirurgião e o treinamento de equipes multidisciplinares. Artur Zanellato (Brasil/Escócia) destacou a necessidade de métodos mais dinâmicos e práticos no ensino da cirurgia de trauma. Já Henrique Alexandrino (Portugal) falou sobre a importância de capacitar todos os membros da equipe de saúde (não apenas médicos, mas também enfermeiros, fisioterapeutas e técnicos) para atuação coordenada e eficiente.
O segundo painel, intitulado “Educação em Trauma e Cirurgia de Urgência”, teve moderação dos Acadêmicos Alberto Schanaider e Raul Cutait, concentrando-se nos principais cursos e protocolos utilizados internacionalmente na capacitação de profissionais da saúde.
Rodrigo Vaz Ferreira (São Paulo) apresentou as atualizações mais recentes do curso ATLS® (Advanced Trauma Life Support), que acaba de chegar à sua 11ª edição, sendo um dos pilares da educação em trauma no Brasil e no mundo.
Ari Leppaniemi, da Finlândia, falou sobre o DSATC (Definitive Surgical and Anesthetic Trauma Care), voltado ao atendimento cirúrgico e anestésico definitivo ao trauma. Ileana Lulic, da Croácia, apresentou o Curso Europeu de Trauma (ETC), enquanto Fausto Catena, da Itália, detalhou o Curso de Cirurgia Abdominal de Emergência (EASC), estes considerados referências no treinamento de profissionais para situações de emergência.
Encerrando este bloco, Carlos Mesquita (Portugal) introduziu o conceito do “Tetraedro da Cirurgia de Emergência”, que propõe uma nova maneira de organizar e pensar a atuação integrada entre diagnóstico, decisão, execução e avaliação nos casos de trauma grave.
O último painel do simpósio, “Atendimento ao Trauma: A Abordagem Multidisciplinar”, contou com moderação do Deputado Federal Ismael Alexandrino, do médico Antonio Marttos (correspondente internacional da ANM nos EUA) e de Pedro Portari (UNIRIO/CBC). A mesa reforçou o papel fundamental da cooperação entre especialidades médicas, áreas técnicas e regiões geográficas para garantir um cuidado eficiente e humanizado.
Michael Moneypenny, com experiências no Quênia e na Escócia, abordou formas de avaliar liderança, profissionalismo e trabalho em equipe entre estudantes de medicina, competências essenciais no enfrentamento de situações críticas.
Dinka Lulic, diretamente de Malta, apresentou um panorama sobre o papel do médico emergencista na Europa, seguido por Frederico Arnaud (Fortaleza, CE), que trouxe um comparativo com a realidade brasileira, marcada por carência de recursos, mas também por experiências inovadoras.
A visão da América Latina foi representada por Andres Rubiano (Colômbia/EUA), que compartilhou práticas de tratamento de neurotrauma, enquanto Kai-Uwe Lewandrowski (Alemanha/EUA), correspondente internacional da ANM, apresentou as diretrizes e avanços da traumatologia ortopédica nos Estados Unidos.
A sessão trouxe a importância de eventos que promovem o intercâmbio de experiências entre profissionais de diferentes regiões e realidades. Em comum, todos os especialistas defenderam que o sucesso no atendimento ao trauma depende não apenas de conhecimento técnico, mas também do trabalho colaborativo, além de investimentos contínuos em educação e infraestrutura de saúde.