Falar sobre suicídio nunca é fácil, mas é urgente. Nesta quinta-feira (11), a Academia Nacional de Medicina abriu espaço para esse diálogo necessário, reunindo médicos e pesquisadores em uma sessão científica organizada pelos acadêmicos Antonio Egídio Nardi e Flávio Kapczinski. O encontro reuniu especialistas para discutir desde os fatores de risco até novas estratégias de intervenção, com destaque para estudos que utilizam inteligência artificial.
A sessão apresentou dados preocupantes sobre o crescimento dos casos de suicídio no Brasil, especialmente entre jovens. A professora Laiana A. Quagliato abordou a questão do suicídio infantil, ressaltando que até crianças de oito anos podem compreender e planejar atos dessa natureza. Fatores como bullying, traumas e transtornos mentais foram apontados como riscos, enquanto relações familiares fortalecidas e intervenções escolares aparecem como mecanismos de proteção.
Outro ponto discutido foi a relação entre separação conjugal e aumento do risco de tentativas de suicídio, especialmente nos meses seguintes ao término de um relacionamento. Estudos apresentados mostram que homens divorciados ou separados estão entre os mais vulneráveis, reforçando a importância do apoio psicológico nesse período.
A automutilação também esteve no centro dos debates. Pesquisas destacaram que, apesar de não ter intenção suicida direta, ela se relaciona de forma significativa com o risco de suicídio, sendo um sinal de alerta para profissionais de saúde, educadores e famílias.
Uma das iniciativas mais inovadoras apresentadas foi o Projeto RISE, financiado pelo Ministério da Saúde em parceria com universidades brasileiras e instituições internacionais como Harvard e Columbia. O estudo utiliza inteligência artificial para identificar precocemente comportamentos de risco, validando ferramentas tradicionais de avaliação e desenvolvendo novos modelos de análise. Os primeiros resultados foram considerados promissores.
A sessão também trouxe um olhar cultural, com a análise do tema do suicídio na obra de William Shakespeare. Nas peças do dramaturgo, o gesto extremo aparece como recurso dramático para explorar paixões, dilemas morais e a condição humana, oferecendo uma perspectiva histórica e filosófica sobre o assunto.
A ANM destacou ainda próximos passos para o fortalecimento da prevenção ao suicídio no país. Entre as ações planejadas estão:
Ao final do encontro, ficou claro que o enfrentamento do suicídio exige integração entre ciência, saúde pública, educação e cultura. “É preciso ampliar os esforços de prevenção, apoio e acolhimento, unindo diferentes áreas do conhecimento”, destacou o professor Nardi.