A Academia Nacional de Medicina promoveu, nesta quinta-feira (25), uma reunião marcada pela lembrança de um de seus grandes nomes e pela discussão de um dos maiores desafios recentes da saúde pública no Brasil.
A abertura foi dedicada ao acadêmico e professor Orlando Marques Vieira, em uma sessão de saudade que reuniu familiares, amigos e colegas de profissão. Cirurgião de destaque, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões por três mandatos, ele foi lembrado por sua contribuição à medicina, generosidade e senso de humor.
O momento mais emocionante veio com o depoimento de sua filha, Marcela, que destacou o amor do pai pela família e pela profissão.
Na sequência, a ANM abriu a sessão científica sobre os dez anos da Síndrome Congênita do Zika, organizada pelo acadêmico Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, em parceria com a Fiocruz. Especialistas revisitaram a epidemia que atingiu o Brasil em 2015, marcada pela associação entre o vírus Zika e a microcefalia, e apresentaram avanços científicos desde então.
A médica Adriana Melo, que identificou os primeiros casos na Paraíba, relatou os desafios enfrentados até que suas descobertas fossem reconhecidas oficialmente. Pesquisadores do Consórcio Brasileiro de Zika reforçaram a necessidade de vigilância permanente, lembrando que crianças expostas ao vírus durante a gestação, mesmo sem microcefalia aparente, podem apresentar problemas de desenvolvimento neurológico e motor, como destacou a pesquisadora Elizabeth Moreira.
A discussão também contou com a participação da sociedade civil. Nádia Silva, da Associação Lótus, falou sobre as dificuldades vividas por famílias de crianças com a síndrome e defendeu a escuta ativa para a formulação de políticas públicas.
Além de revisitar os aprendizados da epidemia, a ANM tratou de pautas atuais, como o projeto de lei sobre remuneração de voluntários em pesquisas clínicas, a proposta de ampliar os investimentos em ciência e tecnologia e a posição contrária à liberação dos cigarros eletrônicos. A Fiocruz também apresentou encaminhamentos, entre eles a continuidade do programa de controle do mosquito Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia e o acompanhamento clínico de crianças afetadas pela síndrome.
O encontro mostrou como a memória de mestres da medicina e a reflexão sobre emergências recentes caminham juntas, inspirando médicos, pesquisadores e gestores a seguir defendendo a ciência e a saúde no país.