A Academia Nacional de Medicina promoveu nesta quinta-feira (9), o simpósio “Human Challenges in Disaster Management”, organizado pelos acadêmicos José Camargo e Rossano Fiorelli, em parceria com o professor Gustavo Fraga, da Unicamp. O encontro reuniu especialistas do Brasil, Estados Unidos, França e Portugal para discutir a preparação e o papel humano em situações de catástrofe e grandes emergências.
Na abertura, a presidente da ANM, acadêmica Eliete Bouskela, destacou a importância do tema diante do cenário atual de instabilidade climática e sanitária. “A medicina precisa estar preparada não apenas para tratar feridos, mas para compreender o desastre como um fenômeno social, ético e humano”, afirmou.
O Dr. Luiz Henrique Horta Hargreaves, do National Institute of Emergency Preparedness (EUA), foi um dos primeiros palestrantes e apresentou os fundamentos do chamado “ciclo de desastres”. Ele reforçou que a resposta a essas situações começa nas comunidades locais. “Os desastres são essencialmente locais. A diferença entre o caos e a resiliência está na preparação da comunidade”, explicou. O especialista também defendeu ações simples e práticas de prevenção, como planos familiares, análise de risco e sistemas de comando de incidentes.
O cirurgião Harald Veen (FRCSEd – França) compartilhou experiências em missões humanitárias e chamou atenção para os dilemas éticos e operacionais que surgem em campo. “A ajuda só é verdadeiramente humanitária quando responde às necessidades reais das pessoas afetadas, e não a agendas institucionais”, pontuou.
Representando a WHO Academy (Portugal), Nelson Olim apresentou novas estratégias para o gerenciamento de incidentes com múltiplas vítimas, enfatizando que a eficiência hospitalar em crises depende mais da coordenação e da triagem do que da estrutura física. “A capacidade de resposta está na organização, não no tamanho do hospital”, resumiu.
Encerrando as apresentações, o Dr. Mauricio Lynn, do Ryder Trauma Center da Universidade de Miami, destacou o “fator humano” como o elemento central no gerenciamento de desastres. Ele propôs modelos inovadores de triagem e atendimento hospitalar e lembrou que, nessas circunstâncias, a atitude dos profissionais faz toda a diferença. “Salvar vidas em massa requer humildade, preparo e clareza de propósito, porque cada decisão em segundos pode definir o futuro de dezenas de pessoas”, disse.
Entre os participantes brasileiros, estiveram os doutores Bruno M. T. Pereira (Univassouras), Agostinho Ascenção (UNIRIO/UCB), Rodrigo Caselli (HBDF), José Gustavo Parreira (SBAIT) e José Alberto Fernandes da Silva Filho (Unicamp). Eles defenderam que o preparo para desastres deve fazer parte da rotina hospitalar, e não se limitar a exercícios pontuais. “Não basta ter planos de contingência ou fazer simulados anuais, o preparo precisa ser contínuo, parte da cultura das instituições de saúde”, afirmou Caselli.
O simpósio reforçou o compromisso da Academia Nacional de Medicina em unir ciência, ética e ação prática. Como resumiu o professor Gustavo Fraga: “Discutir desastres é discutir humanidade, porque o verdadeiro desafio está em manter a compaixão e a eficiência mesmo quando tudo à nossa volta desaba.”