Como avaliar a produção de Anticorpos circulantes e imunidade pós- COVID ou pós-vacina

Por Carlos Alberto de Barros Franco, médico pneumologista, Professor Titular de Pneumologia do curso de Pós-graduação da PUC-Rio e Membro Titular da Academia Nacional de Medicina

Essa apresentação tem como objetivo esclarecer dúvidas entre alguns colegas e muitos pacientes sobre quais exames devem ser feitos para avaliar se houve produção de anticorpos seja pela doença COVID seja pela vacinação .O real interesse é saber qual a proteção tem a pessoa contra a COVID.

Inicialmente relembro a todos que o vírus SARS-CoV2  tem em sua constituição dois locais antigenicamente mais importantes  : são a proteína S (espicula ou SPYKE) e a proteína N (nucleocapsídeo) na superfície do vírus.

Com relação a infecção viral ou seja a doença COVID, o vírus, possuindo as 2 proteínas, estimulara a produção de anticorpos (imunoglobulinas) contra as dois antígenos as proteínas S e N. A dosagem de anticorpos através de técnicas que identifiquem anticorpos contra a proteína S ou a proteína N serão positivos

Com relação as vacinas a formação de anticorpos dependerá qual desses antígenos é contido na vacina utilizada . As vacinas como a Oxford-Astra Zenica, Moderna, Pfizer, Sputinik utilizam um vetor ou carreador que pode ser um outro vírus inativado como na Astra Zenica e um m-RNA como a Pfizer e moderna e como antígeno viral ligado a esse carreador um fragmento da proteína S (SPIKE). Já as vacinas Coronavac e a Covaxin ulitilizam como antígeno o próprio corpo do vírus SARS-CoV2  inativado contendo portanto ambas proteínas  ( N e S).

Dessa forma nos exames para dosagem de anticorpos (Imunoglobulinas), é importante saber nos pós vacinados qual o antígeno utilizado no teste daquele laboratório. Caso o antígeno for a proteína S o teste identificará os anticorpos de todas as vacinas pois todas contem a proteína S. Caso o teste utilizado for com N e a vacina aplicada tiver sido uma que não contenha a proteína N como no caso da Astra Zenica, Pfizer e Moderna não serão identificados os anticorpos contra o vírus sendo o exame um falso negativo.

 Atualmente todos os testes estão sendo adaptados para trabalhar com o antígeno S o que vai resolver essa dificuldade proximamente.

É importante saber que a dosagem de anticorpos (Imunoglobulinas) não é o método ideal para avaliar a imunidade determinada quer pela infecção COVID quer pela vacina. O que importa é verificar se os anticorpos existentes têm capacidade NEUTRALIZANTE ou seja a capacidade em influir na penetração do vírus nas células e sua multiplicação e disseminação para células vizinhas. 

Para avaliar a presença de anticorpos neutralizantes no sangue o exame ideal a ser solicitado é a dosagem de Anticorpos Neutralizantes. O teste padrão ouro para esse fim é através de cultura de células sujeitas a infecção pelos SARS CoV2 com ou sem a presença do soro do paciente.

No meio de cultura são colocados o vírus e o soro do paciente e a presença de anticorpos neutralizantes no soro será sua capacidade em evitar a penetração e a multiplicação do vírus nas células.

Esse procedimento evidentemente tem maior complexidade e é utilizado em laboratórios com nível 3 de segurança geralmente utilizados em pesquisa.

Em vista disso testes comerciais desenvolveram uma metodologia indireta de avaliar a capacidade de um fragmento da proteína S ( spike ) aderir a um fragmento de proteína do receptor ACE2 ( enzima conversora de angiotensina) que é o mecanismo que o vírus utiliza para aderir e penetrar nas células e em seguida iniciar sua multiplicação. Considerando que todas as vacinas contem a proteína S ( spike) não há preocupação sobre o tipo de teste pois todos contem obrigatoriamente esse antígeno. 

A interpretação é que caso existam anticorpos neutralizantes no soro testado não ocorrerá a junção entre a proteína S ( spike) e a proteína ACE 2 sendo portanto o teste positivo para anticorpos neutralizantes. Caso contrário será evidente a não existência desses anticorpos

Os laudos geralmente são positivo ou negativo para anticorpos neutralizantes. Aqueles que já tinham anticorpos por infecção previa deseja-se que após a vacina ocorra um ” efeito booster” e  que haja um aumento de 4x nos títulos desses anticorpos .

Resumindo a presença de anticorpos no sangue não é o método ideal para avaliar imunidade sendo o indicado olicitar a pesquisa de anticorpos neutralizantes. 

Para interpretar os resultados das dosagens de anticorpos em geral pós vacina é importante saber qual o antígeno da vacina utilizada e qual o antígeno pesquisado no teste. 

Vale lembrar que tanto após a COVID ou após a vacina pode existir imunidade em casos em que os anticorpos não são identificados em testes de laboratório. 

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