Debate sobre a malária reúne especialistas na ANM

17/04/2015

Apesar do aparecimento nos primeiros meses deste ano de novos casos de malária em distintas regiões do País, não existe uma epidemia da doença, que está sob controle, concordaram os debatedores presentes à “Jornada de Celebração do Dia Internacional de Luta contra a Malária”, realizada nesta quinta-feira, no anfiteatro da Academia Nacional de Medicina, sob a presidência do Professor Pietro Novellino. De fato, de 2005 a 2009, número de casos e mortes de malária caiu pela metade no Brasil, passando de 607.801 notificações para 306.908, conforme balanço divulgado no fim do ano passado pelo Ministério da Saúde. Já os óbitos caíram de 122 para 58 no mesmo período.

No entanto, houve a preocupação manifesta com o fato de a incidência da doença ainda ser alta nos estados da Amazônia Legal, que concentram quase a totalidade (98%) das notificações no País. A Em 2009, Pará e Amazonas lideraram as estatísticas, com quase 100 mil casos cada um.

O evento teve a coordenação do Acad. Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, que também proferiu a palestra “A Malária de Mata Atlântica”. Em sua apresentação, Daniel-Ribeiro, que chefia o Laboratório de Pesquisa em Malária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e coordena o Centro de Pesquisa, Diagnóstico e Treinamento em Malária (CPDMAL) da instituição, abordou, entre outros, os aspectos terapêuticos da malária vivax e a eliminação do parasito Plasmodium falciparum no Brasil. Pesquisadores do IOC/Fiocruz e do INI/Fiocruz acompanham a questão da ocorrência de malária em regiões de Mata Atlântica desde 1993.

Segundo o Acadêmico Daniel-Ribeiro, se na região amazônica, cerca de 60% dos casos são identificados nas primeiras 48 horas de infecção, o que facilita o tratamento, muito diferente é o que ocorre na região Extra-Amazônica, onde, na maioria das vezes, o médico não considera a malária como uma das possibilidades diagnósticas. Nestas áreas, apenas 20% dos casos são tratados no período inicial da doença.

O Acadêmico Celso Ferreira Ramos Filho, por sua vez, fez uma abordagem histórica da doença, tratando, entre outros aspectos, da distribuição geográfica da malária no País. Segundo ele a doença passou a ser monitorada pelas autoridades na década de 1920, sendo erradicada somente no final dos anos 50.

Em sua palestra, a coordenadora geral do Programa Nacional de Controle da Malária (PNCM) Doutora Ana Carolina Faria e Silva Santelli, enfatizou a grande redução das hospitalizações e óbitos no País por meio da malária, principalmente por conta da ampliação do diagnóstico da doença e o acesso ao tratamento. Na região amazônica, onde a incidência da doença é maior, o PNCM mobiliza 6.800 unidades de atendimento, 4.900 microscopistas e 7.900 agentes de saúde.

De 2012 a 2013, segundo dados oficiais, 2013, houve queda de 26% no número de casos no País, percentual que, em 2014, foi reduzido em 20% em relação ao ano anterior.

O pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), André Machado de Siqueira debateu alternativas para combater o parasito do gênero plasmodium vivax, que vem desenvolvendo resistência à cloroquina, usada há cerca de 50 anos como principal medicação contra a infecção na região amazônica.

Mestre em Epidemiologia e doutor em Doenças Tropicais, entre janeiro de 2012 e julho de 2013, durante o desenvolvimento da tese de doutorado pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), o Doutor Siqueira realizou o estudo ‘Combinação de dose fixa de artesunato-amodiaquina versus cloroquina para o tratamento de fase sanguínea de infecção não-complicada de plasmodium vivax: ensaio clínico de fase 3 rondomizado, aberto, de não-inferioridade’.

O infectologista disse que o próximo passo é avaliar outras alternativas ao tratamento da malária vivax em várias regiões da Amazônia com e sem combinação com a primaquina, associada com mais estudos medindo a eficácia da cloroquina na região.

O Dia Internacional de Luta Contra a Malária, celebrado no dia 25 de abril, tem como finalidade chamar a atenção para a doença, construir compromissos e mobilizar as ações para alcançar as metas de redução do agravo, doença parasitária mais devastadora do planeta A cada ano, segundo a Organização das Nações Unidas, mais de 780 mil pessoas, na maioria crianças, morrem em decorrência da malária.

Mesa coordenada pelo Acadêmico Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro

Acadêmico Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro
Acadêmico Celso Ferreira Ramos Filho
Doutora Ana Carolina Santelli, coordenadora do PNCM

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