Dia Internacional de Luta Contra Malária é tema de Simpósio na ANM

26/04/2018

Na Sessão da última quinta-feira, 26 de abril, a Academia Nacional de Medicina realizou Simpósio de Celebração do Dia Internacional da Luta Contra Malária. Sob organização do Acadêmico Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, palestrantes abordaram questões importantes a respeito da endemia no Brasil e na América do Sul.

Dando início às apresentações, o Acadêmico e coordenador do evento, Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, homenageou Ruth Nussenzweig, pioneira no estudo de vacinas contra a Malária. A pesquisadora austríaca veio para o Brasil em 1939, aos 11 anos de idade, e se formou em medicina pela Universidade de São Paulo em 1953. Sempre dedicada à área de parasitologia e imunologia, foi professora de diversas universidades ao redor do mundo, integrou renomadas instituições científicas e realizou, desde os anos 60, pesquisas básicas para o desenvolvimento de vacinas contra a doença. A médica faleceu em 1º de abril deste ano em Nova York, onde residiu e trabalhou até o fim de sua vida.

Os Acads. Celso Ramos e Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, a doutoranda Luciana Pereira de Sousa, o Acad. Antonio Egidio Nardi, os Drs. Anielle Pina-Costa e Leonardo José de Moura Carvalho

Em seguida, a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Anielle de Pina-Costa, palestrou sobre “A Malária como Zoonese na Mata Atlântica”. A doutora afirmou que quase todo o território brasileiro apresenta condições para transmissão da doença e que sua vulnerabilidade se dá por conta da presença ou chegada de portadores de plasmódio, que por sua vez se mantém pela densidade e longevidade do vetor anofelino.

Dra. Anielle apontou, através de estudos realizados entre 2006 e 2017, as regiões brasileiras mais suscetíveis à transmissão do vírus e relacionou as áreas onde há presença da Febre Amarela e Malária. Segundo ela, houve redução na incidência de casos Malária em locais acometidos por Febre Amarela. Em sua conclusão, destacou os principais reservatórios de Plasmodium na região de Mata Atlântica do Sul e Sudeste brasileiro – no Estado do Rio de Janeiro, de julho de 2016 a abril de 2018, foram notificadas 495 epizootias, envolvendo 1046 animais.

Iniciando o Módulo “Malária: Cerébro e Comportamento”, a doutoranda do Laboratório de Pesquisa em Malária da Fiocruz, Luciana Sousa, abordou sequelas comportamentais tardias em modelos experimentais de malária não complicada. A médica declarou que de 1 a 2% dos casos de malária no mundo evoluem para malária cerebral, responsável por 80% dos óbitos causadas pela doença – conclui-se, portanto, que 98% dos casos são referentes à malária não complicada.

A pesquisadora apresentou os tipos de sequelas neurocognitivas tardias em humanos relacionados à malária cerebral e à malária não complicada. Na primeira, as sequelas mais comuns são ataxia (perda de coordenação de movimentos musculares voluntários e de equilíbrio), hemiparesia (paralisia branda de uma das metades do corpo), disfasia (descoordenação da fala) e epilepsia. Já na malária não complicada as sequelas podem ser dificuldade de aprendizado, comportamento ansioso, déficit de memória a longo prazo e propensão a infecções de curta duração.

O Dr. Leonardo José de Moura Carvalho, também da Fundação Oswaldo Cruz, palestrou sobre malária cerebral, óxido nítrico e drogas adjuvantes em seu tratamento. Através de gráficos, indicou as principais regiões atingidas pelo vírus no Brasil e no mundo. Apontou, ainda, possíveis soluções para o aumento na eficácia no tratamento para diminuir a mortalidade e a incidência de sequelas neurológicas na malária cerebral. A partir de estudos realizados em animais, o pesquisador concluiu que a disfunção de óxido nítrico contribui para a reatividade arteriolar cerebral prejudicada na malária cerebral experimental, e a suplementação do aminoácido L-arginina pode auxiliar no tratamento.

Na segunda parte do Simpósio, o Assessor Regional de Malária da Organização Pan-americana da Saúde, Dr. Roberto Montoya, discutiu o aumento da incidência de malária na América do Sul, os desafios e estratégias para sua eliminação e apresentou dados que indicam o crescimento da morbidade por malária no continente.

Entre os desafios associados à transmissão do vírus pode-se destacar as restrições ambientais, determinantes sociais, como movimentos populacionais de migração, e determinantes econômicos, como atividades ilegais de mineração e agricultura. Já em relação a estratégias para erradicação da malária, o pesquisador apontou como principal recurso a eliminação do ser humano como reservatório de parasitas por meio da detecção precoce de infecção, tratamento radical e concentração de esforços para o fechamento de lacunas nas principais intervenções.

Ainda sobre a situação epidemiológica da malária e perspectivas para o seu controle e eliminação, o pesquisador Marcus Lacerda dissertou sobre a questão no Brasil. Segundo ele, um dos principais desafios é a descentralização das ações de combate, que impede a formulação de um plano nacional de eliminação. O professor da Universidade do Estado do Amazonas concluiu sua palestra comentando as perspectivas para o desenvolvimento de soluções para a doença e a iniciativa brasileira de fomentar a Ciência da Eliminação.

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