Diagnóstico e intervenção de distúrbios de desenvolvimento neurológico pediátrico são abordados em evento internacional na ANM

30/11/2017

Aconteceu na Sessão da última quinta-feira, 30 de novembro, o último ciclo de palestras do Simpósio “Early Intervention and Diagnosis in Paediatric Neurodevelopment Defects in Brazil”, uma parceria da ANM com a Academia Brasileira de Ciências, Fiocruz e a Academia de Ciências Médicas do Reino Unido (UKAMS). O evento durou dois dias e, em sua primeira fase, fechada ao público, foi realizado um workshop com palestras que abordaram temas relacionados a epidemiologia, neurologia pediátrica e doenças como Zika e microcefalia.

O Acadêmico Ricardo Cruz, o Dr. Steven Rehen, os Acadêmicos Marcello Barcinski, Jorge Alberto Costa e Silva e Walter Zin, o Dr. David Edwards e a Dra. Fernanda Tovar Moll

A primeira sessão de palestras ocorreu no dia 29 de setembro e abordou epidemiologia, genética e a natureza acerca dos problemas de desenvolvimento neurológico no Brasil e na América do Sul. Essas palestras foram essenciais para o estabelecimento do contexto acerca do qual o restante do workshop se desenvolveu.

Entre os palestrantes, o professor de medicina neonatal Neil Marlow, da University College London, abordou os cuidados no acompanhamento dos casos de danos cerebrais adquiridos, ressaltando a importância em identificar quais crianças estão suscetíveis a desenvolver dificuldades de aprendizagem e a existência de sistemas especializados para o auxílio dessas crianças. O médico apontou ainda que a proporção de pessoas com deficiência física é relativamente pequena quando comparada aos casos de deficiência cognitiva.

A Dra. Melissa Gladstone, da Universidade de Liverpool, fez apresentação sobre avaliações e intervenções nos distúrbios de desenvolvimento, abordando os principais métodos diagnósticos e os indicadores das desordens. Apontou também os tratamentos que podem ser combinados para a resolução do problema, como aumento das interações entre mães e filhos e maiores estímulos psicossociais. Citou também a ligação entre saúde, bem-estar social e educação, fatores altamente afetados pelo baixo desenvolvimento neurológico.

De acordo com a proposta do workshop, após as apresentações os participantes foram divididos em três grupos de trabalho, visando abordar questões levantadas na sessão de abertura e respondendo questões específicas propostas pelo Comitê Organizador do evento.

Com tema “Neuroplasticidade Cerebral e Próximos Passos”, a segunda sessão, conduzida pelo Acadêmico Paulo Niemeyer Filho, tratou a importância da intervenção precoce em distúrbios cerebrais perinatais e na infância, e estratégias de programas de estímulo neurológico como tratamento. O professor da King’s College London, David Edwards, abordou em sua palestra os estudos realizados na busca de tratamentos para distúrbios do desenvolvimento neurológico e explicitou a diferença entre o impacto que os investimentos em pesquisas têm em países de maior e menor relevância socioeconômica. Também se apresentaram nessa sessão os Professores Patricia Garcez (UFRJ) e Alexander Parciokowski (University of Rochester Medical Center).

As sessões do dia 30 tiveram enfoque maior na questão dos estudos e pesquisas pediátricas realizadas após o surto de Zika vírus no Brasil, o que se pôde aprender com o surto e as questões éticas que envolvem estudos pediátricos. A Dra. Andrea Zin, do Instituto Brasileiro de Oftalmologia, abordou o impacto da infecção uterina de Zika vírus no desenvolvimento da visão, e a Dra. Lynn K. Paul, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, falou sobre Autismo e Distúrbios Neurocognitivos.

A última sessão de palestras do evento foi aberta ao público e teve como tema políticas públicas de saúde relacionadas a doenças causadoras de distúrbios de desenvolvimento neurológico pediátrico. A discussão abordou as principais conclusões acerca do impacto social resultante da síndrome de Zika e o fortalecimento de intervenções na saúde pública. A médica e Presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, refletiu sobre a crise política e econômica do país e seu impacto tanto no desenvolvimento científico e tecnológico quanto no sistema de saúde pública. Evidenciou ainda a importância da participação ativa de toda a sociedade no combate a epidemias, propondo a produção de conhecimento de perspectiva interdisciplinar, a fim de gerar inovação nos campos científico, educacional, político e social.

A Dra. Nísia Trindade Lima

Em sua conferência, a Diretora do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas do Ministério da Saúde, Dra. Thereza de Lamare Franco Netto, apresentou reflexões acerca das perspectivas e problemas da saúde pública brasileira, discorrendo sobre como o país encarou o estado de emergência e o papel do Ministério da Saúde no combate à epidemia. Apresentou ações estratégicas e medidas efetivas de combate, planos de suporte a estados e municípios e os próximos desafios e projetos para lidar com a prevenção, diagnóstico e tratamento das epidemias.

Na segunda etapa do Simpósio – aberta ao público -, alunos, residentes e profissionais da área da Medicina assistiram às discussões

Sob coordenação do Acadêmico Rubens Belfort, “Visibilidade para crianças invisíveis” foi tema da conferência apresentada pela doutora Maria Elisabeth Moreira, do Instituto Fernandes Figueira. A palestrante abordou as causas de mortalidade infantil no Brasil e apresentou as taxas de mortalidade por região dos últimos trinta anos, destacando que, apesar da queda significativa, a região Norte ainda apresenta os maiores índices do país.

Apresentou, ainda, os índices de mortalidade neonatal, que hoje representa mais de dois terços das taxas de mortalidade infantil; ressaltou que a redução dessas taxas é ainda mais difícil se relacionada a outras faixas etárias. Por fim, alertou para as disparidades regionais, socioeconômicas e étnicas envolvidas na medição da mortalidade infantil no Brasil.

O palestrante David Edwards (King’s College London) retornou para tratar do tema “Developmental Connectomics”, um novo tipo de pesquisa que possibilita explorar o desenvolvimento de cérebro através do mapeamento não-invasivo de padrões de conectividade estrutural e funcional. Em seguida, o Professor da UFRJ e Membro Afiliado da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS) Stevens Rehen falou sobre a questão dos modelos celulares para estudos do cérebro humano, chamando atenção para o fato de que a aproximação entre pesquisa básica, pesquisa clínica e os médicos é imprescindível para o desenvolvimento científico e tecnológico de qualquer país. O Diretor de Pesquisa do Instituto D’Or (IDOR) destacou também as dificuldades científicas que existem em razão da falta de recursos públicos em infraestrutura e na formação de recursos humanos. Nesse sentido, destacou o trabalho do IDOR como exemplo de instituição privada sem fins lucrativos que possibilita uma contribuição significativa na solução de problemas.

A co-fundadora e vice-presidente do IDOR, Fernanda Tovar Moll, abordou a conectividade e o mapeamento do cérebro por imagem em distúrbios neurológicos, explicando que fatores como a nutrição, o ambiente ao qual a criança será exposta e diferentes patologias podem exercer papel fundamental na modulação do cérebro. Salientou, ainda, que qualquer dano ou estímulo na fase pré-natal ou pós-natal impacta de forma significativa a formação do cérebro maduro.

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