Medicina e direitos humanos

11/11/2021

A tortura sempre ocorre de portas fechadas e as testemunhas são restritas. Por questão de ética, estados e autoridades tendem a negar a prática e, por isso, usam métodos de tortura que não deixam marcas visíveis. Normalmente, as vítimas de tortura são mantidas em isolamento e sentem medo. Por essa razão, acabam não denunciando.

“As piores cicatrizes são as que ficam na mente. Sem dúvida, essas cicatrizes são as mais complicadas. A diferença entra a tortura física e a tortura psicológica é artificial. A tortura física sempre atinge o psicológico, e a tortura psicológica sempre acomete fisicamente. Por isso, estão sempre associadas”, sentenciou o professor Duarte Nuno Vieira, presidente da Academia de Medicina de Portugal, em conferência na Academia Nacional de Medicina, no dia 11 de novembro de 2021.

O médico na defesa dos Direitos Humanos foi o tema do professor Nuno Vieira, que é ainda Catedrático da Faculdade de Medicina, da Universidade de Coimbra, e que teve seu papel de destaque internacional comentado pelo presidente da Academia Nacional de Medicina, professor Rubens Belfort. “Nuno Vieira é uma pessoa excepcional. Foi além da medicina, tendo papel proeminente em ações médicas internacionais, na defesa dos direitos humanos contra esse mal que é a tortura.”

Reparação a dano corporal, danos psicológicos oriundos de maus tratos e torturas foram os assuntos abordados por Nuno Vieira e comentados pelo também acadêmico Paulo Saldiva.

Segundo o acadêmico brasileiro, a tortura é um instrumento para a prática do preconceito devido aos instintos perversos e descreveu-a como um evento anticivilizatório. “Dentro da nossa humanidade, que é algo virtuoso, mora também a crueldade, a falta de empatia e a capacidade de praticar o mal. A tortura sempre acompanhou a história da Humanidade, subjugando pessoas apenas por interesse e preconceito.” 

O acadêmico José Carlos do Valle complementou: “Nós temos o lado bom e o lado ruim. O lado ruim é contido pela nossa conscientização, instrução e religiosidade, mas nós o temos. Na nossa profissão, já observei muita maldade, principalmente, com a população mais pobre. Infelizmente, isso não é raro, é relativamente comum e diz sobre o caráter do indivíduo.” 

O convidado da noite finalizou a sessão com uma fala esperançosa sobre as maravilhas que são feitas pelo ser humano, mesmo em meio a uma sociedade deturpada: “O ser humano é capaz de cometer atrocidades, mas também é capaz de fazer coisas fantásticas. E temos a capacidade do perdão, que é algo que eu admiro nessas vítimas que conseguem perdoar,” finalizou.

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