Um panorama da tuberculose

21/09/2012

“Tuberculose: perspectivas e mudanças de paradigma no diagnóstico” foi o título da  conferência proferida pela pesquisadora da Fiocruz, Margareth Pretti Dalcolmo, na ANM, no dia 20/09/2012.

Tratar precocemente a doença; desenvolvimento de vacinas eficazes para prevenção; e de novas drogas que encurtem o tratamento estão, segundo Dalcolmo, entre os principais objetivos da Organização Mundial da Saúde para a doença.

Dalcolmo iniciou lembrando que, apesar dos anos decorridos desde a descoberta do bacilo da tuberculose por Robert Koch, em 1882, “deveríamos estar falando na erradicação e, no entanto hoje, ainda falamos de uma doença que atinge 70 mil brasileiros a cada ano, levando ao óbito cerca de 4.500.

Ainda em relação aos dados epidemiológicos, Dalcolmo ressaltou que a tuberculose no Brasil é uma doença urbana. “A doença está ao nosso lado”, disse e citou as características sóciodemográficas do Rio de Janeiro que ajudam a incrementar as estatísticas. O Rio se caracteriza por uma faixa de terra muito estreita entre a montanha e o mar e foi porta de entrada da tuberculose no país. Hoje, o número de casos da doença na cidade é acima do restante do país e a comunidade da Rocinha ainda guarda números alarmantes só comparados a países cuja a incidência da doença é muito elevada como a Índia.

Diferente do que a maioria pensa, a tuberculose decresce no país apenas numa velocidade menor do que seria desejado. Nos últimos 12 anos, houve um decréscimo de 2.2% ao ano, enquanto se esperava uma queda de 5%. A taxa de “retratamento” ainda é alta no Brasil com índice de 12% em pacientes com uma complexidade muito grande. Dalcolmo ainda ressaltou a diferença do tratamento da tuberculose no país, onde não há conflito entre o público e privado. “Os pacientes diagnosticados no setor privado, buscam seus remédios no setor público”, explicou. Em relação a fatores de multiresistência aos medicamentos, ela deu uma boa notícia: o Brasil não faz parte das 26 nações que possuem cepas resistentes ao tratamento, especialmente, as antigas repúblicas da antiga União Soviética, onde a taxa de resistência é acima dos 20%. “Nem temos a cepa que surgiu na Índia em 2012 e cuja mortalidade é de 100%”, declarou.

Em relação ao diagnóstico da doença, Dalcolmo contou que desde a descoberta da tuberculose há mais de um século, o método bacteriológico continua sendo o padrão ouro. A pesquisadora ainda falou de outros com custos baixos, mas sem especificidade e o radiológico ainda também muito usado em nosso país, mas ressaltou que muitas formas extra pulmonares da doença ainda exigem outro tipo de abordagem de diagnóstico. A pesquisadora citou como promessas nessa área o GeneXpert que está entre os métodos de tecnologias mais modernas, com uma boa acurácia, sendo até recomendado pela OMS. Segundo ela, o Brasil faz estudo para implementá-lo na rotina pública.

Por fim, a pesquisadora abordou o que existe hoje em termos terapêutico para a tuberculose. “O que aconteceu nos últimos 60 anos?” perguntou à plateia e, em seguida, tratou de relatar desde os primeiros medicamentos até os recentes avanços de tratamento, buscando-se primordialmente uma redução no tempo.

Segundo ela, o primeiro medicamento foi a Streptomicina que surgiu em 1944 e que possibilitou que os pacientes saíssem dos sanatórios e voltassem a conviver na sociedade. As últimas conquistas são, por outro lado, moléculas altamente bactericidas, porém parece claro que a tuberculose jamais será uma doença tratada com monoterapia. O que se busca, afirmou, é a melhor associação de medicamentos, que propicie um tratamento mais curto, menos tóxico e mais eficaz. 

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