Uma viagem pela medicina brasileira nos últimos 50 anos

15/10/2020

Para comemorar o Dia do Médico (18/10), a Academia Nacional de Medicina convidou o Dr. Dráuzio Varella para sua sessão científica no dia 15 de outubro de 2020. 

O presidente da Academia Nacional de Medicina, Rubens Belfort Jr., ao anunciar o convidado, relembrou a amizade que os une, desde os tempos em que foi aluno de Dráuzio Varella. “É uma grande honra, uma grande alegria e um prazer receber você aqui hoje, quando ocupo este cargo.”

Varella fez uma verdadeira viagem pela medicina nos últimos 50 anos, abordou dos sonhos grandiosos de um jovem formado na década de 60 aos dias atuais. 

Dos primórdios de sua carreira, ainda durante a ditatura, relembrou alguns dos ideais de sua geração de formandos: acabar com a miséria, doenças como a tuberculose e baixar os índices de mortalidade infantil, além de alfabetizar todos os brasileiros. De forma crítica, refletiu ainda como sua geração acreditava que fazia parte de uma elite de médicos, cuja ascensão social estava garantida em consultórios particulares. E acrescentou como aqueles jovens das décadas de 60 e 70 tinham uma visão limitada para aspectos como racismo, machismo e homossexualidade. 

Mas, como relembrou, o mundo e o Brasil evoluíram, e os médicos daqueles tempos tiveram que se adaptar. Do direito à saúde limitado aos vinculados ao então INPS às conquistas do Sistema Único de Saúde (SUS), alçando o Brasil a exemplo de um país com um sistema universal e integral.

  • Hoje, praticamente, não há crianças sem acesso ao sistema de saúde, o que contribuiu para que a mortalidade infantil caísse de 73 para 14 por 100 mil habitantes. 

Dráuzio ressaltou ainda importantes programas nacionais que são reconhecidos mundialmente como o de imunização, de transplante de órgãos, transfusão de sangue, contra o HIV/aids, saúde da família. Hoje, o país, segundo ele, conta com 340 mil agentes de saúde da família.               

Defensor do SUS, Dráuzio relembrou os primórdios da criação de planos de saúde, na década de 90, e transformados em assistência suplementar, sendo responsáveis por parte dos atendimentos à população.

  • Não é justo que tenhamos R$ 137 bilhões de reais para atendimento de 40 milhões de habitantes, no setor de saúde suplementar; e R$ 230 bilhões para atender 170 milhões de brasileiros pelo SUS. 

Em sua viagem pelos últimos 50 anos da medicina, Dráuzio ainda abordou os avanços da tecnologia e da robótica aplicados à medicina e o impacto das imagens na radiologia, nos exames e diagnósticos que evitaram as cirurgias exploratórias; além dos medicamentos de última geração e que permitiram controlar doenças como a aids e o câncer, entre outras. Além disso, ressaltou que médicos atuais precisam lidar com pacientes informados.

– Os médicos que nos precederam falavam sobre saúde nas praças. Na atualidade, a tela do celular se tornou o meio mais rápido de nos comunicarmos com os pacientes que são mais informados e, com eles, precisamos discutir a saúde, a doença e os tratamentos. 

Se avançamos em termos de tratamento por um lado; por outro, nossa forma de viver nos trouxe prejuízos para a saúde, disse. Hoje, segundo ele, 90% dos trabalhadores são sedentários, contra 10% na década de 60. 

A sessão ordinária da Academia Nacional de Medicina, em comemoração ao Dia do Médico, ainda contou com uma apresentação do secretário geral, o acadêmico Ricardo José Lopes da Cruz, que relembrou as origens da data, que foi criada no Dia de São Lucas. 

Lopes Cruz enumerou para os cerca de 100 participantes diversos pontos críticos na medicina brasileira atual e que ainda precisam avançar. Distribuição equânime de médicos pelo país, regulamentação das faculdades de medicina, falta de definição sobre a extensão da cobertura universal pelo SUS, regulamentação das filas, a necessidade de melhorias na integração entre os sistemas público e privado, a necessidade da integração dos dados, ponto que foi também mencionado pelo convidado Dráuzio Varella: por que até hoje não temos o cartão SUS? E Lopes Cruz mencionou ainda outros aspectos que merecem comemorações.                                                                       

E por fim, Dráuzio terminou afirmando que, em 50 anos de profissão, jamais se arrependeu da escolha que fez. “Continuo encantado pela medicina. Profissão caprichosa como a mulher amada, capaz de despertar crises inesperadas de paixão.”

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