Efforts to Cope With COVID-19: Académie Nationale de Médecine de France

23/04/2020

A Academia Nacional de Medicina promoveu encontro virtual com médicos e especialistas em Covid-19 oriundos da Academia Francesa de Medicina. O encontro, aberto ao público e transmitido por diferentes plataformas virtuais, aconteceu no dia 23 de abril de 2020, e reuniu mais de 160 expectadores. A discussão focou em estratégias de tratamento, testagem e o fim do confinamento.

À frente do Brasil na evolução da pandemia, os médicos franceses contaram aos brasileiros como se organizaram para sair da quarentena a partir de maio de 2020. Entre os tópicos abordados, a educação, economia, cultura, respeitando-se a segurança de todos.

A Academia francesa orientou que a saída do isolamento não ocorresse simultaneamente em todas as províncias do país, tampouco em todas as cidades de uma mesma província, ao mesmo tempo, mas sim uma a uma, priorizando aquelas que apresentassem taxas de transmissão mais baixas.

Christine Rouzioux, ex-chefe do Departamento de Virologia do Hospital Necker APHP, esclareceu que, iniciado o processo de reabertura, o objetivo foi testar todos os pacientes sintomáticos, aumentando o número de exames semanais de 150 mil para 500 mil. Após serem identificados, os pacientes diagnosticados com Covid-19 deveriam manter-se em isolamento.

Rouzioux alertou que essas precauções continuarão sendo necessárias após a suspensão do isolamento, devido à estimativa de uma baixa taxa de imunidade contra o SARS-Cov-2 – percentual que se acredita estar entre 2 e 10% da população, mesmo nas regiões onde houve maior infecção.

As estratégias brasileiras – O médico Esper Georges Kallás, titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, falou sobre a eficácia e riscos de drogas como remdesivir, galidesivir e hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19.

Esper ainda mostrou resultados de testes realizados com os antivirais arbidol (umofenovir) e lopinavir – este último prescrito para o tratamento do HIV – e que não trouxeram resultados favoráveis. Remdesivir e galidesivir, dois antivirais de amplo espectro, e favipiravir, medicação muito utilizada em pacientes de Covid-19 no Japão, mas ainda em análise.

Mapa de contaminação para fim da quarentena – Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o Instituto Semeia, Grupo Fleury e Ibope lançaram uma iniciativa de mapear a exposição da população de bairros da capital paulista à infecção da Covid-19. Este foi o tema do acadêmico Rui Maciel, na mesma sessão conjunta com os franceses.

O objetivo, segundo o acadêmico Rui Maciel, era descobrir quantas pessoas já estariam imunes, para que os governos traçassem estratégias com o objetivo de flexibilizar as medidas de isolamento social e planejar o fim da quarentena, sem riscos de uma segunda onda de infecção. O projeto aguardava, em abril, a aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

Testagem em massa – O acadêmico Rui Maciel abordou ainda o tematestagem em massa, que tem demostrado uma boa estratégia para conter a contaminação pelo novo coronavírus. Mas quais os exames estão disponíveis no Brasil? Quando solicitá-los e como interpretá-los? Estas perguntas foram respondidas por ele, durante a sessão.

Entre as opções diagnósticas utilizadas no país, Rui relacionou os exames de RT-PCR, que é uma técnica molecular que utiliza informações do RNA do vírus para sua detecção. Este teste pode ser feito com amostras coletadas da nasofaringe e orofaringe ou secreção das vias aéreas, devendo ser coletado entre o 3 e 10º dia, desde o surgimento dos sintomas, pois ao final deste período a quantidade de RNA tende a diminuir. Possui alta sensibilidade, porém isso varia de acordo com a data em que o material foi colhido e com os cuidados criteriosos para garantir a qualidade da amostra e do processamento. O resultado apresenta alta especificidade, sendo muito confiável.

Outro exame disponível é a sorologia que avalia a reposta imunológica do corpo feitos a partir da detecção dos anticorpos IgA, IgM (infecção recente) e IgG (infecção anterior há três semanas), encontrados no sangue do paciente. Para ter maior sensibilidade, recomenda-se que seja feito a partir do 10º dia dos primeiros sintomas. Possui alta especificidade se respeitados os prazos para realização do exame, entretanto se realizado fora deste prazo, pode apresentar um falso negativo.

Os testes rápidos também estão disponíveis, porém apresentam sensibilidade e especificidade menores comparados aos outros métodos. Segundo Maciel, a utilização destes pode ser feito para estudos epidemiológicos. O acadêmico também comentou sobre a utilização da tomografia computadorizada de tórax que tem demonstrado bons resultados.

Diferentes faces da Covid – A infecção pelo novo coronavírus provoca em cada indivíduo contaminado reações diferenciadas e que devem, segundo a professora da UFRJ e acadêmica da ANM, Patrícia Rocco, levar a um tratamento individualizado. A acadêmica foi outra das expositoras da sessão conjunta com os francês.

Nem todo paciente grave deve receber o mesmo tipo de ventilação mecânica. A Síndrome Respiratória Aguda Grave pode ocorrer em função da ventilação e não em virtude da contaminação por Covid-19. Por isso, Rocco recomenda que as estratégias de ventilação devem ser baseadas nos resultados dos exames de tomografia computadorizada de cada um e associadas a outros parâmetros clínicos.

Três estágios da Covid-19 – Outro convidado desta sessão, foi o acadêmico Daniel Tabak, que falou sobre a capacidade do novo coronavírus de se proliferar no corpo de forma muito rápida e em três estágios distintos. São eles:

Estágio I: a fase inicial de resposta viral, em que aparecem os sintomas clássicos como febre acima de 37,8°, tosse seca, diarreia, acometendo o intestino e a perda do olfato e paladar. Neste momento, aparecem também sinais hematológicos na coagulação, em marcadores que podem indicar lesão em algum órgão, entre outros.

Estágio II: na fase pulmonar, a doença apresenta uma progressão rápida e iniciam-se sintomas como falta de ar e diminuição das taxas de oxigênio no sangue ou nos tecidos. É neste momento que o exame de tomografia apresenta anormalidades e a função hepática pode apresentar comprometimento.

Estágio III: a fase da hiperinflamação corresponde ao maior nível de agravamento, quando o corpo reage de forma exacerbada ao vírus. Neste estágio, o paciente já apresenta Síndrome Respiratória Aguda Grave e comprometimento que pode afetar múltiplos órgãos como coração, rins, olhos, sistema vascular e até o cérebro.

Desta reunião, a Academia Nacional de Medicina e a Académie Nationale de Médicine publicaram um documento oficial que pode ser acessado em https://bit.ly/37IFlc5.

As sessões científicas estão disponíveis no canal da Academia Nacional de Medicina no YouTube em https://bit.ly/3eByjYS.

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