Anfiteatro Xavier Sigaud recebe Jornada de Cirurgia Bariátrica

04/05/2017

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o número de cirurgias bariátricas no Brasil aumentou 7,5% em 2016 em comparação com o ano de 2015 – os dados apontam que, no ano passado, cerca de 100.512 pessoas fizeram a cirurgia. Tendo em vista este cenário, o Acadêmico Octávio Vaz organizou uma Jornada de Cirurgia Bariátrica, contando com a colaboração de diversos especialistas que discutiram o estado da arte da especialidade.

Abordando “Diagnóstico, Classificação e Fisiologia da Obesidade”, o Prof. João Régis Carneiro (UFRJ) ressaltou que quase todos os países do globo observaram um aumento significativo no número de pessoas diagnosticadas com obesidade; em contrapartida, chamou atenção para o paradoxo existente, uma vez que ainda há fome no mundo. Ressaltou que em países como os Estados Unidos (e o Brasil), mais pessoas falecem em decorrência de obesidade do que de fome. Traçando um panorama da situação brasileira, destacou que a obesidade cresceu 60 % em dez anos no país, passando de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016.

O Professor João Régis Carneiro apresentou dados sobre a obesidade no Brasil

Na conclusão de sua apresentação, afirmou que a obesidade é uma doença complexa, de origem multifatorial e fisiopatologia ainda não completamente compreendida. Ressaltou que é necessário grande esforço e investimento pelas autoridades governamentais e não-governamentais para maior entendimento e combate a este problema. Por fim, no que se refere à abordagem terapêutica dos pacientes, salientou que esta deve ser individualizada e realizada preferencialmente por uma equipe multidisciplinar.

Sobre “Indicações Cirúrgicas e Avaliação Pré-Operatória”, o Dr. Luiz Gustavo Oliveira e Silva (Hospital Federal de Ipanema) chamou atenção para o fato de que atualmente, o país ocupa o 2º lugar no ranking de cirurgias bariátricas realizadas, perdendo apenas para os Estados Unidos. No Brasil, em janeiro de 2016 o Conselho Federal de Medicina publicou a Resolução nº 2.131/15, que estabeleceu novas regras para a realização de cirurgia bariátrica no Brasil, ampliando para 21 o número de doenças associadas à obesidade que podem levar à indicação da cirurgia bariátrica.

O Dr. Luiz Gustavo Oliveira e Silva durante sua conferência

Discorreu, então, sobre a avaliação pré-operatória dos pacientes, destacando a importância de uma abordagem multidisciplinar que inclua nutricionistas, endocrinologistas, psicólogos/psiquiatras, cardiologistas, etc. Ressaltou, ainda o importante papel desempenhado pelo cirurgião em informar o paciente a respeito de todos os procedimentos a serem realizados, além de seus riscos e possíveis desdobramentos.

Com apresentação intitulada “Quando o Psiquiatra deve Contraindicar a Cirurgia”, o Dr. Marcelo Papelbaum (UFRJ) afirmou que o psiquiatra tem papel decisivo na identificação de fatores de risco ou potenciais desafios pós-operatórios que podem contribuir para um desenvolvimento insatisfatório para o paciente. Algumas das precauções para a indicação da cirurgia a serem analisadas pelo psiquiatra envolvem o uso de drogas ilícitas ou alcoolismo e presença de quadros psicóticos ou demenciais graves ou moderados. Além deste fato, ressaltou que é necessária a compreensão, por parte do paciente e familiares, das mudanças de hábitos inerentes à cirurgia bariátrica e da necessidade de acompanhamento pós-operatório a longo prazo.

O psiquiatra Marcelo Papelbaum

Ao final de sua conferência, salientou que, apesar dos riscos inerentes a qualquer operação de grande porte, a cirurgia bariátrica está associada à melhoria de qualidade de vida relacionada à saúde física e mental dos pacientes. Todavia, a presença de transtornos mentais tende a persistir no pós-operatório e podem ter impacto na perda de peso em longo prazo.

Em sua palestra, intitulada “Tratamento Cirúrgico e suas Complicações”, o Dr. Marco Antonio Leite (Hospital Federal de Ipanema) apresentou um histórico das técnicas cirúrgicas utilizadas, ressaltando que existem três tipos de métodos: disabsortivos, restritivos e mistos, que podem ser realizados por via aberta, laparoscópica e robótica. Foram apresentadas técnicas diversas, como o Balão Intragástrico, o Anel Gástrico, a chamada gastrectomia vertical (ou “sleeve”), a gastroplastia higa-almino, etc. Com relação às complicações mais comuns, o Dr. Marco Antonio Leite ressaltou anemia, hipoglicemias, diarreia, úlcera de boca anastomótica, fístulas/estenoses, desnutrição, hipovitaminoses, dentre outras.

As principais complicações da cirurgia bariátrica foram abordadas pelo Dr. Marco Antonio Leite

Em conclusão o cirurgião afirmou que as opções disponíveis são muito diferentes, tanto nas suas vantagens quanto nas desvantagens. É, portanto, responsabilidade do cirurgião a discussão e a disponibilização de todas as informações sobre os custos e os inconvenientes de cada procedimento. Por fim, salientou que os objetivos do tratamento são alcançados por meio da expertise do médico e pela qualidade da cirurgia visceral, e não necessariamente pelo acesso escolhido.

A Dra. Luciana El-Kadre (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica) falou sobre “Como Prevenir e Tratar as Principais Deficiências Nutricionais”, destacando que aproximadamente 30% dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica desenvolvem algum tipo de complicação nutricional, como deficiência de macro e/ou micronutrientes. O grau destas deficiências é, em geral, determinado pela técnica cirúrgica adotada, os hábitos alimentares do paciente e a presença de complicações no pós-operatório. Alguns dos distúrbios mais comuns citados pela gastrocirurgiã incluem anemia, deficiência de folatos e hiperamonemia.

A gastrocirurgiã Luciana El-Kadre

Ao final de sua apresentação, salientou que o sucesso da suplementação que visa corrigir ou prevenir as deficiências nutricionais depende de vários fatores. Desta forma, torna-se vital compreender as formas pelas quais os nutrientes podem ser administrados e como eles podem ser absorvidos pelo paciente. Por fim, destacou que o diálogo com o paciente e o estabelecimento de uma boa relação são de extrema importância, uma vez que o acompanhamento pós-operatório é realizado a longo prazo e pode demandar suplementação permanente.

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