ANM realiza simpósio sobre Doenças Inflamatórias Intestinais

13/09/2018

Na última quinta-feira, 13 de setembro, a Academia Nacional de Medicina realizou o simpósio “Doenças Inflamatórias Intestinais Idiopáticas”, sob organização do Acadêmico Eduardo Lopes Pontes e do Honorário Nacional Sender Miszputen. Acadêmicos e convidados apresentaram temas referentes ao tratamento e diagnósticos de doenças como Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn.

Dando início ao simpósio, o Professor da Faculdade de Medicina da UFRJ, Heitor Siffert, palestrou sobre o tema “Etiopatogenia das Doenças Inflamatórias Intestinais”. O médico apresentou casos clínicos e taxas de incidência e prevalência para Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn. Apresentando uma linha do tempo histórica, o especialista afirmou que o padrão de doenças mudou ao longo dos últimos 50 anos, com a diminuição de doenças infecciosas e aumento de doenças inflamatórias e imuno-mediadas. Uma das hipóteses para a alteração desse cenário é a mudança mundial nas condições de vida – a população mundial passou a ter hábitos mais saudáveis nos últimos anos.

Na mesa diretora, o Honorário Nacional Sender Miszputen e os Acadêmicos José Galvão-Alves, Antonio Egidio Nardi, Eduardo Lopes Pontes e Ricardo Cruz

Dr. Siffert discorreu ainda sobre o impacto da dieta na determinação da microbiota intestinal, os diferentes padrões microbianos, inflamação induzida por lesão tecidual e inflamação intestinal crônica induzida por sinais exógenos, ressaltando os fatores ambientais derivados do expossoma determinante da função gênica e dos desfechos da doença. Por fim, o gastroenterologista declarou que, do ponto de vista de mecanismos de doença, nenhum dos tratamentos atuais bloqueia diretamente os gatilhos patológicos das DII, e concluiu apresentando as perspectivas para seu tratamento, a abordagem terapêutica baseada na biologia dos sistemas, com uma maior especificidade e maior potencial curativo.

Em seguida, o Acadêmico Eduardo Lopes Pontes abordou o tema “Doenças Inflamatórias Intestinais e Gestação”. Apresentando dados referentes à incidência em mulheres grávidas, o especialista afirmou que as DII atingem ambos os sexos, com leve predominância do sexo feminino, com implicações na sexualidade, fertilidade e gestação. Alegou ainda que um levantamento dos resultados de exames Papanicolau recente revela aumento das infecções por HPV associada ao uso de imunomoduladores. Segundo ele, esses índices afetam a fertilidade, que pode diminuir por conta da doença colônica ativa e suas aderências. Além disso, a inflamação nas trompas de Falópio e ovários também podem levar à infertilidade, enquanto a doença perianal pode causar dispareunia. Outros fatores como redução da atividade sexual, ostomia, fatores emocionais e receio de transmissão aos filhos reduzem as taxas de gestantes portadoras de doenças inflamatórias intestinais.

O Acadêmico discorreu também sobre o tratamento de DII em gestantes, seus efeitos sobre a gestação e os riscos para o recém-nascido. Em sua conclusão, alertou para as especificidades no tratamento de cada caso – mulheres que recidivam durante a gestação devem iniciar tratamento adequado, ressalvando-se as possíveis contraindicações de cada medicamento. Afirmou que a tendência da doença permanece conforme seu estado na concepção: mulheres cuja concepção ocorre durante a fase de remissão tendem a permanecer em remissão, enquanto mulheres cuja concepção ocorre durante a fase de atividade, tendem a permanecer assim (70%).

O Honorário Nacional Sender Miszputen realizou palestra intitulada “Manifestações extra intestinais das doenças inflamatórias intestinais”. Iniciou sua alocução caracterizando as DII como desordens sistêmicas não limitadas ao trato gastrointestinal, já que muitos dos pacientes desenvolvem sintomas extra intestinais que comprometem outros sistemas, com impacto negativo no seu estado funcional e na sua qualidade de vida. O médico apontou os tipos de manifestações extra intestinais, entre elas manifestações osteoarticulares, mucocutâneas, hepatobiliares e oftálmicas.

Por fim, declarou que as Doenças Inflamatórias Intestinais estão associadas com uma grande variedade de manifestações extra intestinais que chegam a produzir maior morbidade que a própria doença intestinal. Além deste fato, mais de 30% dos pacientes com DII apresentam pelo menos uma manifestação extra intestinal. Ressaltou ainda a recomendação de terapia agressiva precoce acompanhada de prescrição de medicamentos, em razão da iatrogenia em potencial.

O Honorário Estrangeiro Claudio Fiocchi, que apresentou aula intitulada “Doenças inflamatórias intestinais: onde estamos? ”, elucidou a função da microbiota intestinal, comumente chamada de Flora Intestinal, que auxilia em processos como a digestão de alimentos e o monitorando do desenvolvimento de microrganismos que causam doenças.

Dr. Fiocchi apresentou os tipos de tratamentos possíveis para DII e explicou o conceito de medicina de precisão – abordagem recente no tratamento e prevenção de doenças que leva em consideração a variabilidade individual dos genes, meio ambiente e estilo de vida para cada pessoa. Finalizou sua apresentação indicando as perspectivas para o futuro do tratamento das doenças inflamatórias intestinais, ao que afirmou que a integração de dados biológicos para construção de redes regulatórias, por meio de auxílio computacional é o mais eficaz dos tratamentos.

Dando prosseguimento ao simpósio, o Honorário Nacional Flávio Antônio Quilicci abordou o algoritmo de tratamento para DII. Versando a respeito das práticas vigentes, indicou os medicamentos adequados para cada tipo de doença e seu respectivo grau de atuação. Frisou a importância do acompanhamento e monitoramento objetivo de sinais infamatórios, por exames de imagem, endoscopia, laboratório e calprotecina fecal.

Dr. Fábio Vieira Teixeira, Coordenador da Comissão de Medicamentos e Biossimilares da Federação Brasileira de Gastrenterologia, abordou o uso de biossimilares no tratamento de doenças inflamatórias intestinais. O especialista comprovou a validade dos biossimilares em comparação a medicamentos de referência por meio de estudos que verificavam a caracterização da molécula com estrutura primária e secundária idêntica ao medicamento de referência.

Dr. Paulo Gustavo Kotze apresentou em seguida duas aulas; na primeira delas, “Biológicos e Cirurgia na Doença de Crohn: Qual a relação? ”, discutiu a revolução do tratamento da doença a partir da descoberta da terapia biológica. Segundo ele, antes da terapia biológica, o objetivo principal dos tratamentos era a remissão clínica e endoscópica. Hoje o objetivo é a remissão histológica, com cicatrização completa da mucosa, resultado obtido com a redução da atividade das células T e indução da apoptose das células de defesa.

O especialista atentou para a relevância da necessidade de um severo rastreio de microrganismos latentes, e em casos de resultado positivo, o início da terapia deverá ser avaliado caso a caso. Outro fator importante são as comorbidades dos pacientes e o tratamento de outras infecções ativas. Concluindo, afirmou que o tratamento biológico tem indicação precisa para alguns casos, como a Doença de Crohn fistulizante ou Doença de Crohn perianal. Outros que se beneficiam do tratamento são os pacientes com quadros de colite graves ou refratários ao tratamento convencional. Isso porque, com a imunossupressão fornecida pela medicação, estes ficam mais suscetíveis a infecções oportunistas ou manifestações mais graves de doenças.

Sua segunda aula foi referente à Retocolite Ulcerativa e à nova técnica de tratamento por cirurgia de Bolsa Ileal com técnicas minimamente invasivas. Dr. Kotze descreveu a proctocolectomia e sua importância enquanto técnica cirúrgica. Indicada aos pacientes refratários ao tratamento clínico, com elevado risco de câncer colorretal, na manifestação extra-intestinal sem controle clínico, no retardo do crescimento em crianças e nas urgências como a colite aguda grave, perfuração ou hemorragia, o tratamento cirúrgico na retocolite ulcerativa tem um importante papel, à medida que a remoção de todo o cólon e o reto representa uma alternativa curativa para a doença. De acordo com o especialista, a proctocolectomia com bolsa íleo-anal é a cirurgia de escolha para a maioria dos pacientes com indicação cirúrgica eletiva, apesar de uma morbidade cirúrgica significativa.

Apresentando os novos métodos e técnicas terapêuticas, o médico concluiu que as técnicas cirúrgicas têm evoluído para preservar a função evacuatória, minimizar as morbidades pós-operatórias e melhorar a cosmética com técnicas minimamente invasivas. Apesar disso, a proctocolectomia total com ileostomia terminal tem seu lugar nos candidatos ruins para a construção da bolsa e a colectomia total com anastomose íleo-retal ainda pode ser uma opção em pacientes altamente selecionados.

O Honorário Estrangeiro Claudio Fiocchi versou sobre o tema “Tudo está ligado a tudo…inclusive as doenças inflamatórias intestinais”, abordando-o como doença sistêmica, considerando a complexidade biológica e as interações entre organismos. O médico indicou ainda os diferentes indicadores terapêuticos existentes na prática clínica, entre eles fenótipo clínico, subtipo molecular e intermatoma molecular. Ressaltou por fim a importância de uma visão ampla em relação às Doenças Inflamatória Intestinais enquanto doença sistêmica, e a integração de técnicas terapêuticas e diagnósticas.

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