O legado do acadêmico nonagenário Eduardo Moacyr Krieger

20/10/2021

“Nunca fiz nada sozinho. Sempre tive a colaboração de alunos e de colegas competentes e de alto nível. Contei também com excelentes oportunidades nas instituições para as quais trabalhei. Não basta apenas ter talento, é preciso galgar oportunidades para exercemos nossa capacidade. Eu fiz tudo que estava ao meu alcance para colaborar com o desenvolvimento da Ciência, da Tecnologia e das nossas universidades. Acho que posso dizer: Dever cumprido.” destacou Eduardo Moacyr Krieger, homenageado em simpósio promovido pela Academia Nacional de Medicina, no dia 14 de outubro de 2021.

O evento, realizado de forma online, contou com a coordenação do presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM), Rubens Belfort Jr., e do médico Protásio Lemos da Luz, da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Na oportunidade, os coordenadores enfatizaram a trajetória do professor Krieger em benefício da Ciência e da Medicina e sua dedicação e competência para formação de novos profissionais.      

O presidente da ABC, Luiz Davidovich, ressaltou a importância do trabalho em conjunto entre as academias, principalmente, nesse momento de crise econômica, social e sanitária, onde essa união trouxe contribuições ao país. Sobre o homenageado, Davidovich não economizou palavras de reconhecimento.

“Estou muito feliz em participar desse evento, pois tenho muita admiração e afeto pelo professor Krieger. Ele tem um papel de estadista. É uma pessoa que vê além de seu tempo, que comanda com extrema elegância e que, de fato, fez transformações importantes no cenário nacional e internacional da Ciência e da Medicina.”

Nas palestras que transcorreram durante o simpósio, os convidados foram unanimes em destacar o espírito de luta e a inquietude do homenageado em prol do tripé pesquisa, ensino e assistência em busca de resultados para a saúde da população.

O cientista Abilio Afonso Baeta Neves, da ABC e ex-presidente da Capes e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul, discorreu sobre a importância do legado do professor Krieger na pós-graduação médica do país. “Ele criou uma linhagem de acadêmicos espalhados pelo Brasil que foi o fio condutor para institucionalização da pesquisa”.

O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e ABC, e o médico José Otávio Auler, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), comentaram ainda sobre o papel do homenageado na internacionalização da Ciência brasileira, abrindo novos horizontes no diálogo e na interação.

Além desses convidados, o professor José Goldemberg, ex-ministro da Educação, ex-reitor da Universidade de São Paulo e ex-presidente da Fapesp, palestrou sobre “O papel da pesquisa científica e tecnológica no século XXI no Brasil”, que hoje é de responsabilidade das universidades e institutos especializados do país.

Com uma cronologia encantadora sobre os passos da evolução da pesquisa científica e tecnológica, o professor Goldemberg iniciou seus comentários a partir do surgimento das primeiras escolas de ensino superior. Segundo dados expostos, essas universidades foram fundadas tardiamente no Brasil, apenas em 1808, ano no qual foram instauradas as escolas de Cirurgia e Anatomia, em Salvador.

 – Até a Proclamação da República, as universidades se desenvolveram muito lentamente no país, visando apenas assegurar a formação de profissionais como advogados, médicos e engenheiros”, pontou Goldemberg.

Com o olhar para a política, o ex-ministro da Educação fez críticas ao sistema brasileiro e pontuou que somente a oferta de conhecimento não resolve os problemas da indústria e da sociedade brasileira. A demanda por esses conhecimentos depende de políticas macroeconômicas e que cabe ao Governo Federal agir. “Esse sistema não pode sozinho garantir o desenvolvimento e modernização do país.” E sinalizou que Krieger foi um dos nomes brasileiros a garantir a modernização na Medicina. Segundo ele, um caso único. “O nosso homenageado contribuiu muito e contribui até hoje para que isso ocorra aqui no Brasil e essa razão pela qual estamos aqui hoje,” declarou Goldemberg

Engrossando o coro, Luciano Drager, da USP enfatizou o fortalecimento do InCor e em especial da unidade de Hipertensão, no período de gestão do professor Krieger.  “Ele é um exemplo e inspiração como ativista na promoção da Ciência e na valorização do conhecimento. Ajudou na integração da pesquisa básica com a clínica, fazendo a interação dos grupos multidisciplinares O professor Krieger é um legado na pesquisa clínica. Ele formou uma geração de pesquisadores e nos ensina a importância do foco e da persistência.” A pesquisadora Maria Helena Carvalho, da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) e da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) lembrou as contribuições do nonagenário para criação dessas instituições. “Me sinto extremante honrada em poder falar sobre esse médico, cientista, gestor de Ciência e, acima de tudo, um ser humano integro, criativo e incansável.

O filho do homenageado, José Eduardo Krieger, membro da ABC, fez questão de ressaltar os subsídios do pai às pesquisas interdisciplinares, nas quais foi pioneiro; além do seu legado em capitanear o InCor por tantos anos. Emocionado ele desabafou: “Ele é meu mestre há 61 anos. Desde que nasci”.

Para acompanhar a homenagem completa, acesse os vídeos:

Parte I – https://www.anm.org.br/simposio-homenagem-aos-academicos-nonagenarios-da-anm-14-de-outubro-de-2021-parte-i/

Parte II – https://www.anm.org.br/simposio-homenagem-aos-academicos-nonagenarios-da-anm-14-de-outubro-de-2021-parte-ii/

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