Cirurgia de Urgência na Época de COVID-19 e a importância do SUS na Saúde

30/07/2020

Cirurgia durante a pandemia: é possível? 

Você já pensou no meio da pandemia ser acometido por um caso de saúde grave e que necessite de cirurgia? Ninguém quer passar por uma situação dessas, mas não estamos imunes. Este foi o tema de encontro virtual promovido pela Academia Nacional de Medicina, no dia 30 de julho de 2020, data especial em que se comemora o Dia do Cirurgião Geral. 

Entre os convidados, o médico Edivaldo Utiyama, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que apresentou um panorama sobre cirurgias de urgência e condutas realizadas nos últimos meses.

As lições tiradas desse contexto foram comentadas pelo presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Luis Von Bahten.

Participaram também os médicos Roberto Rasslan, Sérgio Damous e Jones Pessoa dos Santos, todos da FMUSP, que apresentaram, respectivamente, casos de pacientes que tiveram endocardite bacteriana, colecistite aguda e perfuração de duodeno – quadros agravados pela covid-19, debatendo as condutas cirúrgicas para cada situação.

Enfrentamento da epidemia – A professora titular da USP e integrante do Comitê de Crise do Hospital das Clínicas (HC), Eloisa Bonfá, foi outra convidada da sessão e contou como foi o planejamento para o enfrentamento da covid-19.

Segundo ela, o plano do hospital começou quando a epidemia não estava instaurada e o mundo tinha apenas seis mil casos da doença restritos à região da China. Durante dois meses, a instituição criou estoques e organizou estruturalmente os 2.400 leitos do Complexo do HC para atender os casos da doença que eclodiram a partir de março.

Diante do aumento dos infectados, o complexo adotou estratégias antecipadas e bem definidas como a separação dos institutos, centralizando os casos de covid, delinearam novos fluxos, recrutaram equipes, montaram times de suporte especializados, além de abrirem novos leitos como enfermarias especializadas e convertendo 34 salas de cirurgias em 76 novas vagas de UTI para viabilizar a internação de pacientes críticos.

Todo o enfrentamento à pandemia envolveu os 20 mil colaboradores do HC e de seus cinco institutos, o que possibilitou manter entre 40 a 70% dos procedimentos cirúrgicos nas unidades que permaneceram com baixa exposição ao vírus.

Assista abaixo o vídeo sessão.

SUS e desafios – Na sessão ordinária da ANM, o tema foi o SUS e o primeiro convidado o acadêmico e ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Segundo ele, o SUS realiza 4 bilhões de procedimentos ambulatoriais todos os anos, 1 bilhão e 400 mil consultas anuais, 12 milhões de internações, 95% de transplantes realizados no país. “O SUS não é uma ideia, é uma rede de proteção fantástica, mas ainda enfrenta muitos problemas, como o subfinanciamento”, ressaltou.

Enquanto o SUS atende 150 milhões de brasileiros e tem um orçamento de R$ 240 bilhões anuais, ou seja, pouco mais de R$ 1 mil reais por ano/habitante; a rede privada atende 50 milhões de pessoas a um custo de R$ 200 bilhões/ano. A conta não fecha, disse o ex-ministro.

Criado há 32 anos, o SUS ainda tem muitos desafios, apontou Temporão, incluindo aspectos econômicos, tecnológicos e políticos. E mostrou-se preocupado diante de uma proposta do atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, de implementar uma modernização sem consulta às instâncias do SUS. Segundo Temporão: “uma barbárie disfarçada de modernidade.”

Desafios para o futuro – Ex-presidente da Anvisa e professor de Saúde Pública da USP, Gonçalo Vecina, foi também palestrante desse 30 de julho de 2020.

Vecina elogiou a capacidade do SUS no enfrentamento da pandemia. Para ele, um dos legados dessa epidemia foi descobrir a importância do SUS. Por outro lado, abordou o subfinanciamento, a necessidade do aperfeiçoamento da gestão que não é um problema exclusivo da saúde, mas de todo setor público brasileiro. É fundamental investir em recursos humanos, conhecimento, material e equipamentos.

– Deveríamos revisitar o modelo de descentralização na assistência e reestruturar nossas redes de atenção em saúde com base nas manchas populacionais.

Vecina fez ainda duras críticas às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e à militarização do Ministério da Saúde, com distribuição de cargos para não técnicos. Segundo ele, a UPA não é atenção primária e nem emergência.

Confira abaixo a íntegra desta sessão:

A organização do evento foi dos acadêmicos José de Jesus Camargo e Samir Rasslan, sob coordenação dos acadêmicos Octavio Vaz e Rossano Fiorelli.

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